O consumo de energias renováveis no Brasil vai mais que dobrar até 2035, segundo dados apontados pelo relatório do BP Energy Outlook. O levantamento prevê aumento de 4,8% ao ano no consumo desse setor, o que dará ao País status de exportador líquido de energia, com o crescimento das produções de petróleo, gás e energias hidroelétrica, nuclear e renováveis. Além disso, a produção de energia vai passar de 94% do consumo em 2015 para 112% em 2035.

O BP Outlook mostrou, ainda, que o único combustível que vai sofrer retração no seu consumo é o carvão, com queda de 16%. Os renováveis, incluindo biocombustíveis, vão crescer 157%. E nessa toada,  o gás natural deve registrar aumento de 43%. O relatório apontou, também, que esse tipo de combustível vai crescer 1,8% ao ano, mais do que a média mundial, que vai ficar em 1,6%. Já a produção deve subir 1,7% ao ano no período, crescendo cerca de 1 Bcf/d até 2035.

O setor industrial responde por 56% do consumo total de gás natural. Aproximadamente, a metade desse mercado utiliza o combustível para produzir vapor, e, a outra, para queima direta. Diversos segmentos industriais, como o de papel e celulose, vidros e siderurgia, por exemplo, têm a preferência pela utilização do gás natural como fonte de energia para a geração de calor, ganhando, assim, qualidade nos processos.

O Brasil possui uma cultura no desenvolvimento de combustíveis renováveis e conta com um grande potencial de produção, porém, devido à falta de uma política clara nesse sentido, os projetos ainda não tiveram a curva de crescimento que deveriam.

No que diz respeito à expansão, de acordo com Guilherme Garcez Cabral, professor da PUCRS, os segmentos mais impactados positivamente são os de tubulações e acessórios para redes de distribuição em condomínios e estabelecimentos comerciais. “Nas redes de distribuição de gás natural, são exigidas as instalações de válvulas de segurança, que também deveriam ser utilizadas no gás de cozinha convencional (GLP), mas que, geralmente, não estão”, explica. Além disso, podemos destacar o desenvolvimento de medição remota para cada unidade consumidora em condomínios e prédios comerciais.

Entre os mercados mais importantes, que podem apresentar uma ampliação no consumo de gás natural, quatro estão dentro do setor industrial e demandam incremento de maquinário. São eles:

1 – Sistema de transporte

O mercado nacional é carente de tecnologias dedicadas ao gás natural, tanto para veículos leves quanto para pesados. O gás natural proporciona uma redução significativa na emissão de gases poluentes. E para o desenvolvimento desse mercado, há uma demanda pela criação de equipamentos capazes de facilitar a sua aplicação.

2 – Biogás

O biogás pode ser aplicado para a geração de energia e mesmo para uma eventual substituição do óleo diesel. Há um movimento muito forte para o seu desenvolvimento, que assim como no caso do transporte, também depende de equipamentos específicos que garantam a produção, o tratamento, a compressão e o transporte.

3 – Centrais termoelétricas

No Brasil, já há três projetos termoelétricos que devem utilizar gás natural, um no Rio Grande do Sul, outro em Pernambuco e o terceiro em Sergipe.

4 – Rede de distribuição

Ocorrendo a expansão para as áreas citadas, haverá a necessidade da construção de uma infraestrutura de distribuição local desse gás natural. Isso poderá ocorrer por tubulações e seus periféricos, assim como ela forma comprimida ou, até mesmo, liquefeita do produto.

Outras demandas do mercado de gás natural

Para que a ampliação do mercado de gás natural possa efetivamente ocorrer, a indústria precisa realizar revisões de projetos de máquinas e equipamentos. O professor Garcez destaca um dos segmentos da indústria que precisa passar por essa atualização.

“Um exemplo desse trabalho é o desenvolvimento de grupos geradores que funcionem com gás natural de forma a torná-los tão competitivos quanto os comuns, à base de óleo diesel, existentes no mercado nacional. Eles atenderiam tanto estabelecimentos residenciais e comerciais em grandes centros, que possuem a distribuição do gás natural, quanto poderiam ser utilizados para geração distribuída de energia elétrica em pequenas centrais de produção de biogás no setor rural”, enfatiza.

João Luiz Ponce Maia,  professor da Fundação Getúlio Vargas, comenta outro ponto importante para o crescimento do mercado de gás natural. “Ainda não temos tecnologia para estocar gás natural, isso envolve segurança, normas e custo. Uma vez que o consumo seja expandido, é preciso que se produza maquinário para estocar o produto”, destaca.

A participação do gás natural na Matriz Energética Brasileira (conjunto de fontes de energia ofertado pelo País) é de 12,9%. Esse número vem sendo ampliado, sobretudo em função da versatilidade desse combustível (que pode ser usado na indústria química, automotiva, no comércio, no uso doméstico, etc.) e pelo fato de se tratar de uma fonte de energia menos poluente.

E essa é uma tendência vista em todo o mundo: já há 185 trilhões de m³ de gás natural distribuídos pelo planeta. Não à toa, os especialistas acreditam  que o gás natural seja um combustível de transição ( por ser o mais limpo dos combustíveis fósseis), imprescindível para uma nova economia, na qual as fontes renováveis terão papel de impacto significativo, principalmente para a geração de eletricidade e na revolução energética global, demandando tecnologias, máquinas e equipamentos que acompanhem essa evolução.