Por: João C Visetti ​​​​​​*​

artigo.jpg

Nota-se, no estudo, que a produtividade brasileira, percentualmente, está no mesmo patamar que a indústria norte-americana apresentava na década de 1950. Houve um aumento durante a década de 1980, e caímos novamente.  Ao mesmo tempo, a produtividade coreana, que era muito mais baixa, hoje é o dobro da nossa.  É um cenário preocupante, visto que a produtividade é fundamental para garantir a competitividade de uma indústria, de um setor ou de uma atividade econômica.

O que aconteceu de diferente entre Coreia do Sul e o Brasil?
Não é muito difícil de entender. Enquanto que no Brasil e em outros países da América do Sul os conceitos de produção são baseados em mão de obra abundante e barata, países mais desenvolvidos focaram na educação, no desenvolvimento da mão de obra e na automação de tarefas mais simples.

Hoje, a automação está evoluindo do ambiente industrial para a parte dos processos e serviços. Essa tendência já é bastante frequente aqui no Brasil, por exemplo, quando você aluga um carro ou procura o atendimento da sua operadora de internet. Nesses casos, dificilmente o primeiro atendimento será feito por uma pessoa real. Estamos sempre falando com máquinas que, dentro das opções dadas, conseguem resolver o nosso problema ou direcioná-lo a uma solução.  Com a evolução do machine learning e da inteligência artificial esses sistemas estarão aptos a aprender, apresentado soluções mais completas para qualquer problema.  Se não abrirmos os olhos e não investirmos em produtividade, dificilmente a nossa indústria vai sobreviver a esse novo momento da economia global.

Outro ponto importante é a invasão, na indústria brasileira, de fornecedores de equipamentos baratos, com baixa tecnologia e pouca produtividade. Isso acontece porque, em seus mercados de origem, a indústria já está demandando soluções completas, escaláveis e conectáveis, visando ao constante aumento da produtividade. Com isso, a aposta de escoamento desses produtos são países onde a produtividade ainda não está no centro das atenções. 

A existência de mão de obra barata não pode nem deve ser argumento para a falta de investimentos em tecnologia e melhoria dos processos.  A própria China, que teve essa premissa como uma das bases do seu crescimento econômico das ultimas décadas, investe agora em automação e inovação nas suas linhas de produção.

O Brasil precisa ficar atento aos investimentos que estamos fazendo hoje, pois ele terá impacto nos próximos dez anos, pelo menos. Por isso, é fundamental que os investimentos, projetos e ações estejam alinhados com a quarta revolução industrial e com os avanços da inteligência artificial. Do contrário, estaremos ameaçando a existência do nosso setor industrial.

Com certeza, investimentos corretos vão melhorar – e muito – a competitividade da porta para dentro. Mas, para tanto, os nossos congressistas precisam fazer a “lição de casa” e acelerar as reformas que precisam ser feitas nos campos econômico e político, ao mesmo tempo em que o Governo federal precisa viabilizar os investimentos em infraestrutura, tarefas essas fundamentais para o nosso crescimento.


*João C Visetti é engenheiro, CEO da TRUMPF Brasil e especialista em sistemas e soluções orientados à Indústria 4.0