Quando tudo está indo bem, por exemplo, guerras sem grandes impactos econômicos, nenhum tsunami ou catástrofe ambiental que afete a cadeia de fornecimento, nenhum golpe de estado em uma economia-chave, elogia-se muito os benefícios da globalização. Uma das evidentes vantagens da globalização é a redução de custos através de uma produção descentralizada com produtos de um ponto remoto do globo podendo chegar a qualquer consumidor no planeta.
A globalização começou muito antes da revolução da informação. Sua origem remete ao período das Grandes Navegações no século XVI, mas foi fortemente acelerada pela internet nos anos 90 com a explosão da disponibilidade de informação e conhecimento.
Contudo, primeiro a migração da produção de bens para regiões de mais baixo custo e, depois, a centralização dos laboratórios e universidades, verdadeiras fábricas de patentes, para países de maior poder econômico, criou-se um enorme abismo entre estes dois mundos.
Neste abismo vivem países cujos custos não são extremamente baixos, nem tomaram a decisão de serem protagonistas na geração de patentes. Trocando em miúdos, não é uma coisa, nem outra.
Impactos e lições da globalização
Como disse no início deste artigo, prezado leitor que ainda não desistiu da leitura – aliás, obrigado! – o tsunami de Fukushima no Japão a pouco mais de uma década nos lembrou da cadeia de suprimentos de semicondutores. Empresas automobilísticas contavam chips em containers para saber quantos carros iriam produzir ao longo do dia, semana, mês. Altos executivos contando chips de manhã e de tarde para projetar a curva de produção de carros.
Lição não aprendida, em 2020 com a pandemia caímos na mesma armadilha: fabricação de chips em países distantes que produzem com a cadência que podem e querem para os usos que melhor traduzem a lucratividade. Neste momento, surgem sombras na globalização.
Amenizando a pandemia, surge uma guerra mais significativa. Digo significativa pois, segundo a ONU, existem atualmente 30 regiões do mundo com a presença de conflitos armados. Este último, na Ucrânia e Rússia, é um pouco maior, mais geopolítico e com reminiscências de guerra fria, e pode faltar óleo e gás. De novo, lança-se uma nova névoa sobre a globalização.
Criaram até termos pomposos para esta dúvida: slowbalization, redução no ritmo da globalização, e desglobalização, o próprio nome diz tudo.
Aqui temos uma aparente contradição: graças a revolução da informação nunca tivemos tanto conhecimento e informação disponíveis. Mas este conhecimento cru, apenas formal ou explícito, não traz a produção de volta. Pilhas de livros e artigos científicos não fazem produção, muito menos excelência em produtividade, qualidade e inovação. A monetização do conhecimento não está escrita em páginas abertas de livros. Os segredos estão nas entrelinhas, entre páginas ou mesmo em páginas ocultas. Depois de tantos anos já não produzindo um determinado bem e tendo abandonado determinadas tecnologias, voltar é especialmente difícil. Perde-se o fio da meada e o recomeço é complexo.
Mesmo países de reconhecida musculatura, como EUA, estão tendo que criar planos para voltar a produzir semicondutores. A Intel anunciou somente recentemente, janeiro de 2022, que investirá US$ 20 bilhões em uma nova fábrica nos Estados Unidos para desenvolver e produzir chips avançados. Uma soma considerável.
Resumindo, prezado leitor:
1 – Precisamos nos movimentar do know-how para o know-why. O know-how é coisa antiga, como fazer. Mas o know-why diz respeito do propósito por trás do que está sendo feito. O know-why deveria ensopar indivíduos e organizações. Não deveríamos jamais nos contentar com apenas produzir. Há mais por detrás.
2 – Não acredite somente em livros. Quando o conhecimento ganha as páginas dos livros, ele já não é inovador. Posso blasfemar, mas é conhecimento velho, já está consolidado e perdeu o ineditismo. Ninguém vai ser líder seguindo livros.
3 – Artigos não contam toda a história, sendo apenas um suave aroma daquele que permitiria monetizar um conhecimento.
Portanto, seja um eterno insatisfeito no mundo do conhecimento. Busque sempre mais.
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