Apesar do número crescente de empresas que investem em diversidade e inclusão, o preconceito do etarismo e a baixa contratação de profissionais maduros no mercado de trabalho infelizmente ainda é um problema. 

Para empresas e para toda a sociedade, essa questão vem representando um grande desafio, considerando a necessidade de integração desses profissionais.

Diante desse assunto, o combate ao etarismo precisa ser amplamente discutido, merecendo total atenção de todos os agentes do mercado de trabalho que precisam promover a diversidade etária dentro das empresas.

O que é etarismo?

Por definição, o etarismo é um termo usado para descrever atos de discriminação e preconceito por conta da idade de um ser humano.

Esses comportamentos preconceituosos costumam ocorrer de diferentes maneiras, tais como piadas, atitudes de exclusão e na subestimação da capacidade de pessoas maduras em tomar decisões.

Assim, frases como: “vai começar a estudar nessa idade?”, “você já passou da idade para concorrer a este cargo”, “não temos vagas para pessoas da sua idade” são alguns exemplos de etarismo no trabalho e que precisam ser combatidos.

No entanto, Patricia Punder, advogada na Punder Advogados e compliance officer com experiência internacional, explica que um grande erro é pensar que o etarismo é sinônimo de preconceito com pessoa “mais velha” ou idosa. Segundo a especialista, o termo vai muito além. 

“O etarismo trata de estereótipos, preconceitos e discriminação direcionadas às pessoas com base na idade delas, seja ela qual for, e pode ser de ordem institucional, interpessoal ou contra si próprio.”

O etarismo e suas formas de identificação

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nos últimos anos houve um significativo aumento da expectativa de vida da população, decorrente do crescimento econômico do país, acesso à água tratada e esgoto, aumento do consumo, entre outros.

Porém, ainda faltam políticas específicas e verdadeiramente intencionais de combate à discriminação etária dentro do mercado formal de empregos, ou seja, dentro das próprias empresas.

Segundo Patrícia Punder, é possível identificar essa dificuldade através do processo de contratação. 

“Hoje em dia, os Recursos Humanos de empresas barram pessoas com mais de 50 anos por serem consideradas ‘velhas’ e por não ‘terem capacidade de continuar a se desenvolver e aprender’. Na maioria das vezes, os currículos não são nem analisados ou não são chamados para a segunda fase do processo seletivo”, opina a advogada.

Já durante a carreira, a advogada explica que profissionais mais “velhos/experientes” não são promovidos devido à idade. “Muitas empresas querem pessoas mais jovens, demitindo as mais velhas, devido aos salários serem considerados altos”, diz.

Assim, as empresas podem até agir dessa forma sem pensar, mas certamente podem estar perdendo um excelente profissional devido unicamente à sua idade.

Empresas também podem ser afetadas pelo etarismo

O resultado do preconceito com a idade é o de profissionais que se veem em um beco sem saída ao se aproximarem dos 50 anos, sem a possibilidade de crescimento profissional ou de reinvenção.

Mas, as empresas também podem ser afetadas pelo etarismo. Inicialmente o estímulo à troca de profissionais seniores por mais jovens traz à empresa uma grande perda de conhecimento, principalmente por desconsiderar o valor das décadas de experiências.

Além disso, este tipo de preconceito afeta o ambiente interno, que se torna tóxico e pode gerar ações trabalhistas ou denúncias ao Ministério do Trabalho, além de uma crise reputacional por discriminação divulgada nas mídias. 

“Diante de todas essas consequências, tanto o etarismo quanto toda forma de discriminação deve ser combatida e denunciada”, alerta Patrícia.

Recomendações para combater o etarismo nas organizações

Diante da crescente importância deste tema, várias empresas já estão se movimentando para acabar com o etarismo. Para essas empresas, o que antes era um obstáculo em muitos processos seletivos, passou a ser uma vantagem competitiva interessante.

Assim, há alguns pontos que devem ser considerados para acabar com o etarismo nas organizações, como: 

  • Conscientização; 
  • Treinamento; e 
  • Programa de Compliance/Integridade implantado de forma efetiva. 

“O C-Level também tem a responsabilidade de dar o exemplo em relação a não aceitar qualquer tipo de discriminação”, complementa Patrícia.

Há ainda recomendações e estratégias para o enfrentamento do etarismo com base em evidências sobre suas determinantes e impactos. Segundo Patrícia Punder, os focos de atuação para reduzi-lo são: 

  1. política e lei; 
  2. intervenções de contato intergeracional; e 
  3. intervenções educacionais.

Assim, segundo a American Association of Retired Persons (AARP), quando a diversidade geracional é implantada nas empresas os benefícios serão significativos, como: 

  • Maior produtividade; 
  • Mais oportunidades de mercado; 
  • Mais possibilidade de inovação; 
  • Fortalecimento dos negócios; 
  • Aumento do PIB.

Este é também um fator preponderante para a saúde financeira e sobrevivência da empresa e do próprio colaborador.

Além disso, como em todo processo de mudança cultural, Patrícia Puner explica que a diversidade geracional deve ser capitaneada, rotineira e incessantemente acompanhada pela alta gestão nas empresas. 

“Gestores precisam adotar processos e tecnologias, especialmente, dedicados à diversidade e cultura geracional visando alcançar a todos da organização e que lidam com ela de alguma maneira, direta ou indiretamente.”

Diante disso tudo que foi citado, a advogada finaliza: “A idade definitivamente não pode ser requisitada para contratação, chancela de competência ou de aptidão nem tampouco ao contrário. Precisamos combater isso continuamente”.

O etarismo também está relacionado ao ESG. Aproveite e baixe nosso Guia de ESG na indústria.