Após três anos de quedas consecutivas, a produção industrial brasileira fechou o ano de 2017 com um crescimento acumulado de 2,5% em relação a 2016. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (01/02) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal Produção Física Brasil (PIM-PF).

Diante disso, a ideia de que a recessão da indústria acabou já é um consenso entre a maioria dos especialistas. Portanto, o desafio, agora, é dedicar-se a uma questão: quais mercados os mais promissores para o setor metalmecânico brasileiro, sobretudo nesse momento de retomada do crescimento?

Para responder a esta e a outras perguntas, convidamos Carlos Visetti, diretor-presidente da TRUMPF do Brasil. Confira, a seguir, os detalhes da entrevista.

A Voz da Indústria: Quais são os “mercados do futuro” para a indústria metalmecânica brasileira?Carlos Visetti: Da mesma forma que o Brasil é um grande celeiro agrícola, ele tem uma enorme vocação para a produção de equipamentos agrícolas, segmento que tende a crescer nos próximos anos, beneficiando diversas indústrias, como a metalmecânica. Para se ter ideia, metade da frota brasileira de tratores, colheitadeiras e plantadeiras tem mais de 15 anos.

O Brasil também está virando base de exportação de máquinas construção civil, a exemplo de tratores, movimentadores de peças, etc. Após a bolha que o governo criou com o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), este setor não teve outra opção senão começar a exportar. E este é outro nicho de mercado da indústria metalmecânica, assim como os segmentos aeronáutico, ferroviário e de automóveis.

A indústria aeronáutica já é uma realidade no Brasil; somos um player mundial na área de jatos médios com a Embraer. No caso do segmento ferroviário, o seu crescimento é iminente, basta que haja um modelo viável. Afinal, até quando 5% da safra de soja será perdida no transporte rodoviário entre os Estados do Mato Grosso e São Paulo?

Já o setor automotivo acordou para a necessidade de desenvolvimento de carros com padrão mundial para a exportação. Quando veio a crise, a produção brasileira de carros caiu muito porque os nossos mercados de exportação, em função dos veículos que tínhamos no Brasil, eram a África e América do Sul. Hoje, estamos entrando com veículos globais, que poderão ser vendidos em qualquer lugar do mundo, o que alavancará a produção da indústria automotiva e de seus fornecedores.

A Voz da Indústria: É possível apontar uma transformação iminente da indústria brasileira?

Carlos Visetti: A grande transformação da indústria nacional é que ela está enxergando que não pode mais viver só do Brasil. Ela tem que partir para a cadeia global.

A Voz da Indústria: Nesse sentido, em quais tendências os gestores brasileiros devem ficar de olho? Carlos Visetti: A digitalização é uma tendência urgente na busca de competitividade. Se a indústria brasileira não se digitalizar, ela não participará das principais cadeias globais, que serão digitalizadas, e não terá produtividade. Por digitalização, entenda tanto a automação dos processos, como da produção. E daí também advém a necessidade de olhar para as questões de formação, educação e treinamento, pois o emprego vai mudar do executor da tarefa para o analista pensante.

A Voz da Indústria: Por falar nisso, o Brasil está inserido no conceito da Manufatura Avançada?

Carlos Visetti: O Brasil está engatinhando e buscando soluções locais. No entanto, o País requer uma política industrial. Soluções e meios de produção de ponta para exportar mais, produzir mais aqui e gerar mais emprego. Isso tem de se tornar acessível.

A Voz da Indústria: Qual o futuro da indústria metalmecânica brasileira?

Carlos Visetti: Ela irá vencer os obstáculos, se encontrar e crescer. Nós temos empresários brasileiros na indústria metalmecânica que são realmente empreendedores, com espírito criativo, verdadeiros sobreviventes e resilientes, que lutam como eu nunca vi. Acredito no empresariado brasileiro nessa área e acredito que ele tem tudo para o sucesso.