Além da geração distribuída, existem outras tecnologias em desenvolvimento para o setor elétrico no radar da Aneel. “Temos vários temas que também estão avançando na agência na área de mobilidade elétrica”, disse o diretor da AneMundo do Plásticoel. Também estão em fase de desenvolvimento projetos para o uso de sistemas de armazenamento de energia, usinas reversíveis e usinas híbridas. O uso do hidrogênio para geração de energia, a resposta de demanda, Waste to Energy, e outras tecnologias inovadoras e disruptivas ganham espaço nesse novo cenário.

É uma oportunidade de toda a sociedade, inclusive a indústria, repensar como consome energia. Por isso, as baterias talvez sejam os aparatos que mais expressem todo o movimento de avanço tecnológico. O armazenamento de energia já é uma realidade no mundo e começa a tomar forma no Brasil. De acordo com Carlos Brandão, presidente da Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade da Energia (Abaque), muitos projetos de pequeno e grande porte estão em negociação neste ano e deverão ser realidade ano que vem.

Armazenamento de energia: viabilização no mercado nacional

Assim, Brandão quer que o governo crie um mercado de armazenamento de energia, porém sem qualquer tipo de incentivo. Segundo ele, esse mercado tem potencial para movimentar entre US$ 500 milhões e US$ 700 milhões por ano. Ou seja, a efetivação desse mercado poderia postergar os custos com transmissão e geração a diesel. “Hoje há uma solução de solar com baterias que é usada no mundo inteiro e é muito mais barata que o uso de diesel por várias horas”, explica.

Além disso, a viabilização do mercado nacional de armazenamento também faria com que empresas daqui pudessem oferecer soluções que elas já vendem no exterior. O uso da bateria para consumidores não enfrentaria um desafio grande na regulação, uma vez que o uso dos equipamentos não é regulado. Dessa forma, no lugar de geradores a diesel ou gás que já entram na rede aparecem as baterias.

Rodolfo Eschenbach, líder da indústria de Resources da Accenture para América Latina, reforça esse ponto. De acordo com ele, o consumidor está cada vez mais consciente em ter uma energia limpa. Além disso, paralelamente, as empresas globais estão revendo suas estratégias para adequar seus produtos a esse novo consumidor. “O consumidor de energia começa a ter um poder de escolha que não tinha antes”, disse, afirmando que modelos tradicionais com um único provedor não vão se sustentar com o tempo. “A competição sempre é positiva, tem um foco em qualidade, custo e o consumidor sempre ganha”, afirmou Eschenbach.

Transição do setor elétrico

Repensar o comportamento do setor elétrico é uma tendência mundial. “O mundo está buscando incentivar a transição para novas tecnologias, mas dando liberdade para que as empresas possam encontrar seus próprios caminhos. Assim, as distribuidoras já entenderam que elas vão ter que se capacitar para essas novas tecnologias e estão montando empresas de operação desregulada para poder ofertar tarifas mais competitivas”, destacou Bocuzzi.

O engenheiro elétrico Leandro Pereira, CEO da startup Time Energy, percebeu após trabalhar anos no desenvolvimento de um medidor inteligente que o dinheiro pode estar no mercado não regulado. Por isso, criou o NERAS, um medidor de energia voltado para a indústria, comércio e residências, com o conceito de desagregação das cargas.

“A gente consegue não só fazer a medição de uma unidade consumidora, mas de cada componente instalado no edifício. A ideia é ter uma informação detalhada para auxiliar o consumidor a reduzir o consumo. Percebemos que para a indústria o nosso equipamento tem muitas possibilidades. Quando você consegue desagregar o consumo, conseguimos informações, por exemplo, para fazer manutenção preditiva. Uma máquina que tem um consumo estabelecido para um determinado tempo, mas o consumo mudou, pode ser um indicativo de que pode haver uma falha”, explicou Pereira.