Graças às novas tecnologias as indústrias estão mudando. Com cada vez menos participação humana no “chão de fábrica” e mais automatizadas, sabe-se que os que robôs que realizam diversas funções separadamente irão conversar entre si e conosco, tornando processos mais eficientes. E termos como “internet das coisas”, “big data”, “descentralização” e “virtualização” além de rotineiros terão um impacto na forma como as manufaturas trabalham. Essa nova tendência em manufatura avançada, foi apresentada em 2011 em Hannover, Alemanha, como parte da estratégia de alta tecnologia do governo daquele país, que lidera pesquisas na área. Atualmente, os Estados Unidos também realizam análises.

Há quem fale em uma quarta revolução industrial. Mas para o gerente de Inovação e Tecnologia do Senai-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – São Paulo), Osvaldo Lahoz Maia, o que acontece é um movimento natural da indústria. “Upgrade da era da automação com digitalização”, pois todo país industrializado é automatizado. As pesquisas só não estão mais aceleradas, e implantadas no mercado, devido à crise de 2008. É possível recuperar o tempo perdido e fazer com que a tendência se torne realidade em indústrias brasileiras? Quais inovações essa tecnologia traz?

1-Implantação depende da educação. Maia explica que para estarmos prontos para lidar com a manufatura avançada devemos começar a formar a mão de obra, especialmente em mecatrônica. “Isso vai impactar em desenvolvimento de integração e automação”. Mas para isso, precisamos rever o ensino de matérias escolares como química, física e matemática, essa última considerada ruim no Brasil.

Em 2013, menos de 10% dos jovens sabia o nível adequado de matemática ao terminar o ensino médio, de acordo com o Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). Aparentemente, a situação não melhorou com o passar do tempo e o problema é comum a pessoas de qualquer idade. Um estudo do Instituto Círculo de Matemática do Brasil, ligado ao Instituto Tim, realizado em 25 cidades, mostra que adultos acima dos 25 anos de idade não conseguem realizar equações matemáticas simples, 75% não sabem médias simples, 63% não entendem perguntas sobre percentuais e outros 75% não sabem frações.

2-Novo profissional. O espaço para profissionais de Tecnologia da Informação (TI) vai aumentar. O desafio será ter uma visão macro e de sinergia, atento a toda linha produtiva. Diferente do personagem de Charles Chaplin que apertava parafusos em “Tempos Modernos” de 1936. Os profissionais de TI, que precisarão entender de temas como a mecatrônica, serão responsáveis por boa parte dos processos e, provavelmente, manutenção dos robôs, “que trabalharão ombro-a-ombro com os humanos. Eles serão colaborativos”, segundo Maia.

Um exemplo dessa colaboração é que com sensores mais confiáveis, os robôs perceberão que o colega humano diminuiu o ritmo e começará a se mover mais lentamente. Isso, obviamente, vai mudar o chão de fábrica. Posições de trabalho serão diminuídas e muitos profissionais estarão fora do mercado. E a manutenção robótica não será uma “compensação” de funções. Para fazer isso será necessário conhecimento técnico ou o chamado “reskill’, treinamento de atualização de habilidades.

3 – Virtualização. O deslocamento de locais de trabalho é inevitável. Com menos funcionários há menos encargos trabalhistas, assim a indústria pode ir “para onde quiser”. Será possível trabalhar remotamente de escritórios distantes da fábrica e ainda assim acompanhar o que está sendo feito. Acredita-se que com a popularização de impressoras 3D o funcionário poderá, de casa, imprimir na empresa uma peça necessária para a continuação do processo. Isso está relacionado com a “big data”, “internet das coisas” e personalização.

4 – Big Data. O gerente de Inovação e Tecnologia do Senai-SP acredita que as fábricas estarão espelhadas na nuvem. “Acessou, transmitiu”. Há ainda a proposta de softwares integrados, que ainda não são realidade, mas que serão responsáveis pela conversa entre as máquinas, e vão influenciar a produção. O robô ao perceber que um de seus componentes vai quebrar ou está com temperatura acima no normal, envia um “sinal” para o gestor que poderá diminuir a atividade daquela máquina, mas compensá-la transferindo o trabalho para outra, sem perder a produção.

Essa interação entre máquinas, irá inclusive reduzir o recall de peças defeituosas, pois os objetos serão produzidos sem interferência humana. Milimetricamente adequados ao tamanho necessário, sem aparas, por exemplo.

5 – Internet das coisas. Imagine um avião em viagem transoceânica, com uma escala, que durante o voo os softwares detectam uma de suas partes vibrando acima do normal. Com a “internet das coisas”, essa informação será enviada para a companhia aérea que pode produzir a peça necessária em uma impressora 3D ou em uma indústria e trocá-la durante a escala. Sem causar grandes atrasos. Essas peças terão um “RG” mostrando onde foram produzidas, em que dia e horário e pode ser indicado também, o nome do operador que estava trabalhando naquele turno.

6 – Personalização. Como as peças serão produzidas sob demanda do cliente, haverá um crescimento da prática de customização de produtos. Se hoje já podemos acessar um site, criar uma bicicleta e retirá-la na loja em até três horas. Com a manufatura avançada será possível produzir carros diferentes na mesma linha de montagem. “Esqueça a linha de montagem do modelo T da Ford, em que as pessoas poderiam ter um carro de qualquer cor desde que fosse preta”, exagera Maia.

No futuro, com a participação de robôs teremos um veículo azul, de para-choque cromo com lanternas roxas produzido junto com outros automóveis.

7 – Produção. Pequenas e médias indústrias não terão fôlego para acompanhar financeiramente as inovações por elas serem muito caras. Essa competição, que será mundial, ficará concentrada entre grandes empresas. “E o Brasil pode ser segregado”, lamenta o gerente de Inovação e Tecnologia do Senai-SP.

Em 2015, a produção da indústria brasileira caiu 8,3%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), também do IBGE, em 2015 a produção industrial do País recuou 6,6% em relação ao ano anterior.

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