O ano de 2026 desponta no horizonte como um marco para a manufatura brasileira. O que antes víamos como tendências da indústria, agora se consolidam como pilares estratégicos para a competitividade e a resiliência do setor. A transformação digital, antes vista como meta, hoje é a base indispensável da nova indústria, agora impulsionada por inteligência artificial, novos modelos de negócio e uma consciência socioambiental cada vez mais presente.
Na minha visão, o primeiro ponto a ser observado é a maturidade da digitalização. Dados recentes, como os apresentados pelo Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) de Manufatura, mostram que, embora muitas empresas tenham iniciado sua jornada, ainda existe um abismo entre a automação básica e uma operação verdadeiramente inteligente e conectada. Em 2026, a pressão competitiva não permitirá mais que as indústrias permaneçam nos estágios iniciais. A meta será alcançar uma maturidade que integre o chão de fábrica (MES) ao sistema de gestão (ERP) de forma fluida, gerando dados que não apenas informem, mas que alimentem sistemas de decisão autônomos. A lição de casa de organizar e digitalizar processos será pré-requisito para qualquer avanço.
É aqui que a inteligência artificial, com destaque para os Agentes autônomos, entra em cena de forma disruptiva. Se até agora falamos muito sobre IA para análise preditiva, usando dados para antecipar cenários, no próximo ano a conversa será sobre execução efetiva de tarefas. Agentes de IA integrados aos sistemas de gestão ajudarão gestores a otimizar a produção em tempo real, não apenas sugerindo ajustes de máquina ou remanejamento de insumos, mas executando atividades de forma autônoma, a partir de parâmetros pré-estabelecidos: um Agente poderá, por exemplo, renegociar uma entrega com um fornecedor ao prever um possível atraso, ou ajustar dinamicamente o preço de um produto em um portal B2B com base na demanda e no estoque, tudo de maneira independente.
Essa evolução tecnológica pavimenta o caminho para a consolidação definitiva do e-commerce B2B (business to business) e B2C (business to consumer) na manufatura. O modelo de vendas tradicional, com representantes comerciais e catálogos físicos, cada vez mais dá lugar a plataformas digitais que oferecem uma experiência de compra personalizada e sem fricção para os compradores. Para a indústria, isso significa não apenas um novo canal de vendas, mas uma fonte riquíssima de dados sobre o comportamento do cliente lá na ponta, permitindo uma previsão de demanda mais precisa e uma produção mais alinhada às necessidades do mercado.
Paralelamente a esses avanços, o ambiente de negócios no Brasil trará um desafio estrutural: a Reforma Tributária. Em 2026, com a transição para o novo sistema de IVA dual (IBS e CBS) em andamento, a conformidade fiscal será mais complexa do que nunca. A grande virada de chave para a manufatura será entender que a gestão tributária não se limita mais às suas próprias operações. Será mandatório ter uma visão completa e sistêmica da cadeia de suprimentos, garantindo que todos os seus fornecedores também estejam em conformidade. A tecnologia, especialmente um ERP robusto e atualizado, será a única forma de gerenciar o volume de dados e as novas obrigações, evitando perdas de crédito e garantindo a saúde financeira do negócio.
Por fim, a agenda ESG tende cada vez mais a ser uma prática mensurável e auditável. A pressão do mercado externo, de investidores e de consumidores colocará a sustentabilidade no centro da estratégia. Ferramentas que permitem a gestão e o reporte de indicadores ESG, que auxiliam no cálculo da pegada de carbono ou no diagnóstico de práticas de diversidade e inclusão, serão cada vez mais essenciais e presentes no dia a dia da indústria. A manufatura de sucesso será aquela que não apenas produz com eficiência, mas que também demonstra, com dados, seu impacto positivo na cadeia, na sociedade e no meio ambiente.
Em suma, o futuro da manufatura será das empresas que conseguirem orquestrar essas cinco tendências da indústria de forma harmoniosa, construindo uma operação que seja, ao mesmo tempo, inteligente, automatizada, centrada no cliente, fiscalmente responsável e genuinamente sustentável. O desafio é grande, mas as oportunidades são ainda maiores.