Por sua pluralidade e grande população, a China apresenta inúmeros diferenciais e curiosidades quando o assunto é indústria – desde fábricas totalmente manuais, com mão de obra mais barata, até fábricas hipermodernas com alta qualidade e grandes investimentos em tecnologias.

A propósito, a indústria na China é uma grande investidora da Indústria 4.0 e da Manufatura Enxuta, por exemplo.

A indústria chinesa

Segundo Mauro Andreassa, professor de pós-graduação do Instituto Mauá de Tecnologia, “ambas são necessidades óbvias quando falamos de produtos com alto valor agregado, ambientes competitivos e responsabilidade com o cliente”.

A China se destaca também pelos investimentos na educação. A indústria chinesa tem mão de obra qualificada para explorar os potenciais da inteligência artificial, por exemplo, bem como as tecnologias habilitadoras, entre elas, Machine Learning, Deep Learning, Realidade Aumentada, Data Mining, Big Data, etc.

Para o professor, quando a tecnologia vem acompanhada da capacitação, gera profissionais aptos a melhor contribuir.

“Os engenheiros na China, além de especialistas na área de conhecimento, se apresentam como um profissional da programação, dos dados e da inteligência artificial. Os silos do conhecimento precisam ser definitivamente rompidos.”

Mão de obra

Um grande diferencial da China com relação à sua indústria é a mão de obra, que tem forte qualificação. “Essa mão de obra preparada no ambiente correto é a chave para o sucesso”, ressalta Mauro Andreassa.

Ele afirma que esse ambiente fértil da indústria na China foi conquistado por meio da criação de um forte ecossistema de negócios, alicerçado por universidades, institutos, órgãos governamentais e empresas estatais e privadas – tanto da própria China quanto as multinacionais.

“Ilustrando um pouco mais este tópico, o boom de crescimento da indústria na China que acompanhamos tem início em 1978. Mas o grande impulso vem no XI Plano Quinquenal (2006-2011) onde falou-se de forma clara sobre desenvolvimento científico. Este desenvolvimento científico seria edificado por meio da política de inovação endógena”, explica Andreassa.

Segundo o dicionário, a palavra tem o seguinte significado “… que se origina no interior do organismo, do sistema, ou por fatores internos”.

Cadeia de valor

Portanto, o movimento da indústria chinesa acontece “de dentro para fora”.

Neste sentido, o país busca alterar a sua posição nas cadeias de valor mundial, produzindo mais etapas internamente e gerando um círculo virtuoso em todas as áreas industriais e na respectiva economia.

De acordo com o especialista, “aumentou-se o gasto com desenvolvimento, o chamado P&D (Product & Development), reduziu-se a dependência de tecnologia estrangeira e ampliou-se o número de referências em periódicos científicos e o registro de patentes”.

Tais informações reforçam os diversos megaprojetos estabelecidos na China, entre os quais, os consórcios de pesquisas, liderados pelos ministérios, envolvendo universidades, institutos, órgãos de governo e empresas estatais e privadas chinesas e as multinacionais, desde que dispostas a desenvolver inovação registrada na China.

“O foco são os componentes eletrônicos essenciais, chips de alta qualidade, software, equipamento de fabricação de circuitos integrados de grande escala, redes de comunicação de banda larga de nova geração etc. Vejam: tudo com muita tecnologia.”

Para a indústria brasileira

Com relação à indústria na China, o Brasil pode absorver alguns exemplos chineses e aplicar em seu próprio sistema de manufatura.

Por exemplo, efetuando mais acordos conectando minimamente à indústria para a geração de um novo ecossistema de inovação próprio. Mais uma vez, a palavra “endógeno” pode ser aplicada, desta vez, para o Brasil.

“Apenas uma mão de obra extremamente qualificada vai digitalizar, automatizar e aplicar Inteligência Artificial na indústria nacional com êxito”, complementa o professor. E continua: “Nossa mão de obra deve ser educada nos pilares do conhecimento, ter disciplina e se dedicar muito”.

Andreassa se refere aos moldes chineses. Sobre o Brasil, ele acredita que o país precisa de um plano a longo prazo – uma estratégia industrial.

“A exemplo dos megaprojetos chineses, pergunto: quais são as áreas chave para o Brasil? Qual o plano para a indústria daqui a cinco anos? Temos um plano? Produzimos internamente componentes eletrônicos essenciais? E os nossos chips, temos produção em escala, com qualidade e tolerâncias estreitas?”, finaliza.