A produção da indústria brasileira cresceu 0,8% em agosto comparado ao mês anterior, de acordo com o relatório mais recente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem dúvida, a notícia é um alento para o setor, que há tempos convive com sucessivas quedas – fruto da crise econômica iniciada em 2014.
Ao avaliar os dados de forma minuciosa, é possível observar que somente os bens intermediários (insumos utilizados para produção de outros bens) registraram avanço. A categoria – que representa 55% da indústria nacional – cresceu 1,4% em relação ao mês de julho. Por outro lado, a produção de bens duráveis diminuiu 1,8% no período. Já a de bens semi e não duráveis, além de fabricantes de bens de capital, apresentaram ambas queda de 0,4%.
O resultado mostra que os problemas estão longe de serem resolvidos. Apesar da leve recuperação sustentada pela maior categoria do setor, a verdade é que a indústria brasileira passa por um quadro de estagnação crônica e inclusive corre o risco de deixar o ranking das dez maiores potências mundiais, uma vez que nos últimos cinco anos a atividade nas fábricas de todo o planeta aumentou 10%, enquanto a produção industrial no Brasil caiu 15% no mesmo intervalo.
Além de contar com a melhora da economia brasileira para voltar a crescer com consistência, nesse momento o grande desafio das indústrias também passa pela incorporação de boas práticas de gestão. Hoje ainda são inúmeros os exemplos de empresas da área que serão geridas de maneira familiar. Obviamente, diversas delas são conduzidas por profissionais competentes, mas há também aquelas que derrapam pela ausência de uma governança mais profissionalizada. Já outras falham no processo de sucessão e acabam se perdendo no meio do caminho.
O desempenho do setor também é atravancado pela falta de processos na gestão de pessoas. São raras as indústrias que estabelecem programas para atração e retenção de talentos. Com isso, os melhores profissionais tendem a entrar na companhia e logo em seguida se veem obrigados a procurar por oportunidades mais atraentes, haja visto que grande parte das empresas não costumam oferecer aos colaboradores planos de carreira estabelecidos por metas e resultados alcançados.
Outro fator que merece atenção e tende a influenciar de forma negativa o faturamento de algumas indústrias é a falta de sincronia entre os departamentos de marketing e comercial. Para ficar em apenas um exemplo, é comum que alguns líderes peçam aos executivos de vendas para realizar relacionamento com clientes que costumam adquirir produtos somente a cada cinco anos – claramente uma atividade de responsabilidade do marketing.
Vale também mencionar a importância da formação de equipe de TI. No mercado industrial ainda há diversos profissionais da área avessos a novas soluções pelo medo de perder sua importância dentro da organização. Tal atitude tende a impactar os resultados operacionais do negócio pela ausência de melhorias a médio prazo na gestão organizacional, produtividade do chão de fábrica e até mesmo prejudicando o desenvolvimento de novos produtos.
Tornar eficiente a gestão nas indústrias não é uma tarefa simples. São inúmeros fatores envolvidos para que a administração alcance a solidez necessária, adaptando-se ao conceito Indústria 4.0. Agora a lição de casa a ser feita – por muitas companhias – é ajustar os pontos defasados para adiante pegar carona junto com o crescimento econômico.
*Matheus Pagani é cofundador e CEO da Ploomes