Poucos sabem, mas a indústria brasileira de manufatura tem uma relação direta e estratégica com o setor de energia nuclear.
E essa sinergia vai além da geração de eletricidade. Ela mobiliza diferentes cadeias produtivas: do segmento metalmecânico ao químico, passando por aplicações na medicina, na agricultura e até mesmo na produção de alimentos. Ou seja, a indústria em geral.
A Voz da Indústria conversou com Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), para apresentar alguns pontos importantes sobre a energia nuclear no Brasil e a sua relação com o setor fabril.
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Inovação, competitividade e desenvolvimento econômico
A transversalidade torna o setor de energia nuclear no Brasil uma importante engrenagem para a inovação, a competitividade e o desenvolvimento econômico.
Segundo Celso Cunha, a melhor parte é que a respectiva cadeia está diretamente ligada a uma ampla gama de indústrias, entre elas, a metalmecânica, de válvulas, juntas, materiais elétricos, embalagens especiais e até mesmo insumos para a área médica. Entre eles, produtos para o transporte de radiofármacos, agulhas e seringas.
Além disso, o impacto econômico também chama atenção quando o assunto é a energia nuclear brasileira. De acordo com estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a cada R$1,00 investido na indústria nuclear, há um retorno de R$ 3,2 para a economia. “Considerando que a construção de uma usina nuclear exige cerca de 5 bilhões de dólares, o efeito multiplicador sobre a indústria nacional é gigantesco”, reforça o presidente.
Aplicações da energia nuclear na indústria
Como a energia nuclear é aplicada na indústria brasileira? Celso Cunha responde a essa pergunta revelando que existem diversas aplicações. Inclusive, elas já fazem parte do cotidiano do país. Por exemplo, na rede elétrica, em que cabos irradiados apresentam um aumento médio de 3% em sua capacidade nominal de corrente.
Por sua vez, o setor metalúrgico aproveita em técnicas como ensaios não destrutivos, com líquidos penetrantes que permitem identificar fissuras e falhas em peças críticas para o controle da qualidade.
Conforme Celso, a tecnologia nuclear também está presente na agricultura, em medições do solo, e na indústria alimentícia para a descontaminação de produtos. “São tecnologias que ampliam a confiabilidade e a competitividade da nossa indústria em diferentes segmentos”, avalia o porta-voz da Abdan.
Além da indústria: segmentos mais beneficiados
O setor de energia nuclear no Brasil beneficia diversos segmentos da indústria, entre os quais o metalúrgico, químico, de produção de vacinas e o médico-hospitalar.
A título de informação, o país dispõe de uma infraestrutura mínima voltada à área em questão. Celso explica que ela é composta por institutos de pesquisa, reatores e cerca de 400 clínicas de medicina nuclear. Um dos marcos previstos é a entrada em operação do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), cujo objetivo é permitir a produção nacional de radiofármacos. “Isso nos dará autonomia e reduzirá a dependência de importações para diagnósticos e tratamento do câncer”, destaca.
Desafios do setor nuclear
Apesar das conquistas, a energia nuclear brasileira enfrenta certos desafios. o presidente da Abdan ressalta que a interiorização do acesso ainda é um desafio no país. Isso porque, hoje, a maior parte dos centros especializados, por exemplo, está concentrada no sudeste. Em menor escala, no sul.
“É fundamental expandir a tecnologia nuclear para todas as regiões, de modo a garantir que os benefícios oferecidos cheguem à população de maneira ampla.”
Celso acrescenta que os principais entraves para a expansão do setor não estão apenas no campo técnico, mas também na legislação. Ou seja, questões legais e regulatórias ainda limitam o avanço necessário, somadas à necessidade de uma comunicação mais clara com a sociedade e setores industriais.
“Precisamos equalizar os marcos legais e, sobretudo, desmistificar o uso da tecnologia nuclear, que ainda sofre críticas infundadas e baseadas na falta de conhecimento”, concluiu.
Falando em energia nuclear, saiba mais sobre as fontes alternativas de energia para a indústria.
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