A Transformação Digital não é mais uma tendência futura, mas sim uma realidade presente e imperativa para as empresas que desejam manter a competitividade. Ouvimos falar desse termo, assim como Indústria 4.0, há mais de 10 anos. 

Enquanto a Indústria 4.0 tem uma vertente mais ligada à manufatura e originária da Europa, a Transformação Digital é um conceito mais abrangente, com foco nos Estados Unidos. O que antes era uma projeção, hoje se materializa em investimentos substanciais. 

Investimento e prioridades atuais 

O investimento em tecnologias e serviços de Transformação Digital tem crescido continuamente nos últimos anos, atingindo mais de 2 trilhões de dólares em 2022. Considerando a tecnologia digital de forma mais ampla (TI), o investimento superou 5 trilhões de dólares em 2024. Esse crescimento foi acelerado significativamente após a pandemia de 2020. 

As prioridades das empresas em digitalização entre 2020 e 2023 demonstram a ascensão de temas cruciais. A cibersegurança tornou-se extremamente relevante e prioritária. A migração para sistemas em nuvem também figura como prioridade para mais de 75% das empresas consultadas. 

Adoção de tecnologias e benefícios 

A adoção de tecnologias digitais pelas empresas já é alta em diversas áreas. A computação em nuvem já atingiu valores muito elevados, com mais de 80% das empresas utilizando-a em larga ou pequena escala. Big Data e Analytics também são amplamente adotados, confirmando as previsões da Indústria 4.0 sobre o benefício de trabalhar com grandes volumes de dados conectados. 

A Internet das Coisas (IoT) tem uma alta consideração ou uso, com mais de 90% das empresas pensando em transformar equipamentos em conectados. 

Já a Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning, embora estejam nas previsões da quarta revolução industrial e sejam amplamente consideradas, ainda têm uso em larga escala por cerca de 10% das empresas, indicando que a tecnologia ainda está em desenvolvimento e precisa avançar. 

Empresas estão se beneficiando da adoção de Big Data e IA, especialmente para impulsionar a inovação – seja de processos, operacional ou de novos modelos de negócio. 

O framework do Insper para a Transformação Digital 

Para guiar empresas nesse processo, um framework desenvolvido no Insper aborda a Transformação Digital em diversas frentes. O público da EXPOMAFE 2025 pôde conferir tudo isso em primeira mão no Parque de Ideias. 

A ideia é que a transformação digital não se resume a apenas adotar uma tecnologia. É preciso pensar na estratégia da empresa (o porquê da transformação), e na geração de valor (para o cliente, produto, serviço, operações, cadeia de suprimentos). 

No centro da transformação digital estão os dados e as tecnologias digitais. Isso envolve a captura, extração, conectividade, armazenamento, análise (Analytics) e a aplicação de IA. É um processo de transformação organizacional que também permite pensar em novos modelos de negócio. 

A implementação da transformação digital requer gestão da mudança, incluindo liderança, governança e gestão de projetos digitais. 

Áreas afetadas e capacidades necessárias 

Com base em estudos, três pilares principais são afetados pela Transformação Digital: 

  • Experiência do Cliente 
  • Processos Operacionais 
  • Modelos de Negócio 

Essas áreas são cruciais para dar vazão ao potencial das tecnologias. Pesquisas atuais confirmam que os principais objetivos da implementação de tecnologia são aumentar o crescimento e reduzir custos, o que se relaciona com processos operacionais e modelos de negócio. 

Para conduzir a transformação digital, as empresas precisam combinar duas capacidades essenciais: 

  • Capacidades Digitais: Conhecimento das tecnologias. 
  • Capacidades de Liderança: Habilidade para gerir a adoção e o processo de mudança. 

4 tipos de empresas na Jornada Digital 

Baseado no nível de maturidade nessas duas capacidades, as empresas podem ser classificadas: 

  • Iniciante: Baixa maturidade em capacidades de liderança e digitais. Possui projetos isolados, mas dificuldade em potencializar o uso da tecnologia. 
  • Fashionista: Investe muito em tecnologia, mas sem clareza sobre o que fazer com ela. Compra tecnologias sem um plano estratégico. 
  • Conservador: Investe em tecnologia apenas quando há certeza de um retorno rápido ou payback de curto prazo. Foca em investimentos específicos com retorno imediato. 
  • Digital Master: Alto nível de maturidade nas capacidades digitais e de liderança. Consegue extrair o máximo da tecnologia e possui processos de liderança bem estabelecidos. 

A classificação reflete-se diretamente nos resultados das empresas. Empresas Fashionistas podem ver um aumento de receita (cerca de 6%), mas também um aumento significativo nos custos (cerca de 11%) devido à falta de maturidade na adoção. Empresas Digital Masters, por outro lado, alcançam não apenas um aumento de receita (cerca de 9%), mas também um aumento notável na lucratividade (cerca de 26%). Isso demonstra o valor da combinação de competências digitais e de liderança. 

Ao analisar diferentes setores, a média das indústrias de manufatura é classificada como Iniciante. No entanto, mesmo neste setor, já existem 17% de empresas classificadas como Digital Master. Essas empresas maduras detêm uma maior vantagem competitiva no mercado. 

Metodologia para implementar a Transformação Digital 

Para as empresas que buscam avançar, especialmente aquelas em estágios iniciais, há um caminho sequencial com boas práticas observadas nos Digital Masters: 

1. Desenho do Desafio: 

  • Assegurar que a alta gestão esteja alinhada com a importância estratégica das novas tecnologias; 
  • Realizar um diagnóstico para saber onde a empresa se posiciona; 
  • Definir a jornada e entender como os ativos estratégicos podem ser alavancados; 
  • Criar uma visão estratégica clara para a transformação digital (um ponto de chegada, mesmo que intermediário); 
  • Desdobrar a visão estratégica em metas e objetivos específicos para cada área; 
  • Construir um roadmap definindo recursos e tecnologias necessários ao longo do tempo. 

2. Foco no Investimento:  

  • Alinhar o investimento às metas desdobradas da visão estratégica; 
  • Construir uma governança para a transformação digital que seja adaptada e revisada conforme a empresa avança. Não é apenas responsabilidade da TI; 
  • Balancear os investimentos entre projetos centralizados/para toda a empresa e projetos mais localizados; 
  • Considerar a fonte de financiamento e a natureza do retorno (curto prazo vs. estratégico de longo prazo). Um Digital Master equilibra investimentos com diferentes horizontes de retorno. 

3. Mobilização da Organização:  

  • Comunicar claramente os objetivos e o que se espera do processo de transformação digital; 
  • Demonstrar os benefícios para as pessoas que trabalham nos processos afetados; 
  • Promover a cocriação, envolvendo as pessoas no desenvolvimento das soluções para gerar engajamento e fazê-las sentir parte da solução; 
  • Identificar e mapear pessoas engajadas para ajudar no processo de mobilização; 
  • Encorajar a adoção das novas tecnologias, em vez de impor de forma estritamente top-down

4. Sustentação da Transição:  

  • Construir as competências digitais e de liderança necessárias. Isso pode ser feito internamente, contratando especialistas ou terceirizando serviços; 
  • Alinhar os incentivos e recompensas (financeiros e não-financeiros) para manter as pessoas motivadas e contribuindo; 
  • Estabelecer medição, monitoramento e iteração do processo. Definir KPIs (Indicadores de Desempenho) que equilibrem a medição de resultados locais com a performance geral da área/unidade; 
  • Entender que a transformação digital é um processo iterativo e contínuo. A “bússola” da transformação digital exige revisão constante, pois a tecnologia e o contexto mudam. 

Casos reais de Transformação Digital 

Durante a palestra do professor do Inper, foi possível acompanhar a transformação digital aplicada em projetos concretos que impactam produtos, processos e modelos de negócio: 

  • O projeto entre Insper, AC Camargo e Philips utiliza IA para automatizar a análise de exames de ressonância magnética. Para o AC Camargo, melhora processos operacionais (reduzindo o tempo de laudo). Para a Philips, permite o desenvolvimento de um produto melhor. Baseia-se no ativo estratégico de dados do AC Camargo. 
  • O projeto com a CELCO, uma empresa de manufatura e serviço de manutenção de compressores, foca em monitorar compressores para gerar um novo modelo de negócio – sair da manutenção corretiva para a preditiva baseada em dados e IA. Também otimiza o processo operacional para o cliente final. Considera a arquitetura da solução digital, como a transmissão e análise local de dados. 
  • A TRUMPF, com o Home Connect, mostra como a conectividade das máquinas (IoT) levou à melhoria do produto (para o fabricante) e aumento de produtividade (para o cliente). Além disso, possibilitou um novo modelo de negócio: o aluguel de máquinas, onde o cliente paga pelo uso, e o fabricante mantém a posse e monitora a operação. O volume de dados gerado pelas máquinas conectadas se torna um novo ativo estratégico. 

Sobre a transformação digital na indústria, veja também os destaques em automação presentes na EXPOMAFE 2025