Por João C. Visetti*

O Brasil corre sério risco de ficar de fora do ranking dos países mais industrializados do mundo. Números da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido, na sigla em inglês) apontam que a produção industrial brasileira sofreu uma queda de 16% no acumulado desde 2010.

Esse resultado tem uma explicação: preço. A cadeia produtiva brasileira, apesar de priorizar equipamentos altamente tecnológicos e entender seu valor, acaba abrindo mão desse tipo de inovação e investindo em itens mais baratos e menos modernos. E isso não é difícil de entender, pois os recursos por aqui são altamente limitados, as condições de financiamento não são atrativas e os impostos que incidem sobre o investimento dificultam a compra de equipamentos tecnológicos de maior valor agregado, o que, naturalmente, interfere no montante a ser investido. Em decorrência, a falta de modernização do parque fabril brasileiro compromete a competitividade das empresas no mercado, já que máquinas modernas trazem inúmeros benefícios à indústria.

O conceito de Indústria 4.0 já é uma realidade em algumas partes do mundo e favorece as empresas como um todo. A conectividade entre os processos, por exemplo, permite a localização de gargalos que, antes, impediam que a produção pudesse fluir sem impedimentos, resultando em ganho de tempo e redução de recursos.

Na indústria, a tecnologia é fundamental para que a empresa possa otimizar seus processos e, consequentemente, melhorar a produtividade, cortar desperdícios e, assim, reduzir os custos. Para isso, é fundamental que os processos estejam claramente definidos, possam ser monitorados e acompanhados através de indicadores específicos, com sistemas de gestão de produção integrados, também chamados de MES (Sistema de Execução e Acompanhamento da Manufatura. Esses sistemas auxiliam na coleta e análise dos dados, além de desenvolver, calcular e apresentar os indicadores que possibilitam a análise e otimização dos processos. Hoje, existem diversos sistemas disponíveis no mercado. Os mais eficientes são dedicados e, além de comunicar diretamente com o equipamento, extraindo as informações importantes, também já tem os KPI’s específicos previamente desenvolvidos e podem comunicar diretamente com sistemas de gestão, onde o sistema de BI (inteligência do negócio) consolida os vários setores diferentes da empresa.

A tecnologia inserida em máquinas e equipamentos industriais, além interferir diretamente na qualidade e produtividade, também influencia na imagem da empresa perante a sociedade, já que máquinas mais novas e modernas trabalham mais e utilizam menos recursos prejudiciais ao meio ambiente. Infelizmente, ainda temos uma longa jornada para que o foco não seja o preço, mas, sim, a avaliação consciente que uma empresa deverá ter, ao tomar uma decisão relacionada ao seu parque produtivo.

A boa notícia é que já é possível trazer inovações às empresas, sem correr tantos riscos financeiros. Atualmente, existem diversos sistemas testados e aprovados em operação por empresas no Brasil e no mundo. Também há a opção de deixar a cargo de uma startup, que se dedica à modernização de sistemas industriais, mas desta forma é preciso considerar um risco mais elevado.

É importante frisar que os avanços tecnológicos interferem na mão de obra, que deverá se especializar. Ao mesmo tempo em que os trabalhos braçais, que não demandam grande qualificação, porém são danosos à saúde, serão substituídos, a quarta revolução industrial vai exigir pessoas mais preparadas e capacitadas, trazendo aos trabalhadores maior qualidade de vida e melhores salários. A formação desse novo colaborador torna-se essencial para que seja possível a transição da força bruta de trabalho para uma ocupação onde a criatividade e a inteligência serão mais exigidas.

*João C Visetti é engenheiro, CEO da TRUMPF Brasil e especialista em sistemas e soluções orientados à Indústria 4.0