O atraso da recuperação da economia brasileira percebido nos últimos meses pode ser aproveitado pelos gestores da indústria como mais uma oportunidade de deixar para trás processos que não funcionam mais. Afinal, momentos difíceis instigam a gente a pensar diferente, inovar e, até mesmo, modificar modelos de gestão. Mas enquanto o crescimento econômico do país não engata de uma vez, como manter-se produtivo em um ambiente de redução de custos e poucos investimentos?

Pedro Parreiras, mestre em engenharia de produção e sócio-fundador da Nomus, desenvolvedora de softwares de gestão, dá algumas dicas importantes nesta entrevista exclusiva à A Voz da Indústria. Confira!

A Voz da Indústria – Uma empresa não depende exclusivamente de grandes investimentos para aumentar a sua produtividade?

Pedro Parreiras: Investimentos de grande porte, como aqueles feitos na compra de um equipamento, visam ao aumento da capacidade de produção da empresa. Em um  ambiente de retração, como o que o Brasil está passando desde meados de 2014, o cenário é outro. A necessidade é de se tornar mais produtivo, ou seja, reduzir os recursos e manter o nível de produção. Mas para isso, é necessária uma boa consultoria que, com o auxílio de softwares de gestão específicos, identificará as máquinas ociosas, que poderão ser paradas, ou mesmo vendidas, e também os funcionários dos quais se poderá abrir mão naquele momento, sem que isso traga riscos à produtividade da empresa. Isso tem um custo, sem dúvida, mas ele é muito inferior ao da compra de um equipamento.

A Voz da Indústria – Qual a finalidade das ferramentas de gestão?

Pedro Parreiras: Com as ferramentas de gestão, passa-se a conhecer o fluxo de produção da empresa, ou seja, como os seus recursos, as suas máquinas e os seus equipamentos estão sendo utilizados. Há ferramentas, por exemplo, como o OEE, que é um indicador de utilização de equipamentos. Com ele, é possível identificar quais máquinas estão mais paradas, quais produzem mais, o que fazer para aproveitar melhor a capacidade dos equipamentos que não funcionam a contento. Esta é uma das ferramentas disponíveis, mas há inúmeras outras, como a teoria das restrições e dos cinco porquês.

A Voz da Indústria – O que seria a “teoria das restrições”?

Pedro Parreiras: A “teoria das restrições” é outra ferramenta de gestão. Ela consiste na identificação do gargalo, ou seja, do recurso que está restringindo a produção. A partir daí, o gerenciamento daquela fábrica passa a ser feita do ponto de vista do gargalo.

A Voz da Indústria – E a técnica dos “5 porquês”, do que se trata?

Pedro Parreiras: O objetivo dessa ferramenta é identificar a causa raiz de um determinado problema. Para isso, faz-se a pergunta: “Por que?”, até se chegar à causa daquele problema. Normalmente, no quinto “por que” se tem a resposta. Vou citar o case dessa ferramenta aplicada em uma indústria metalmecânica que enfrentava o problema de não conformidade de uma peça, cujo diâmetro era menor do que o projeto exigia. Neste caso, o primeiro ‘por que?’ levou à seguinte resposta: o operador usinou a peça mais do que deveria. Quando questionado sobre o porquê daquilo, o operador respondeu: ‘o programa CNC não interrompeu o corte’. Então, foi a vez do programador ser interrogado. E ele disse: ‘eu não tinha experiência com aquele software’. Diante disso, perguntou-se ao departamento de RH por que não havia sido dado um treinamento adequado. E a resposta foi: ‘porque a empresa comprou o software, mas não contratou o respectivo treinamento’. E assim foi identificada a causa raiz do problema que, neste caso, se aplicava a diversos outros gargalos da empresa, ou seja, ela não dava a devida importância aos treinamentos. A partir daí, o problema foi sanado sem grandes aportes financeiros.

A Voz da Indústria – Como mudar o modelo mental de uma empresa para se trabalhar com uma visão inovadora num ambiente de recursos restritos?

Pedro Parreiras: A minha dica é parar de olhar para fora e responsabilizar o ambiente externo pelos seus problemas. Mesmo na crise, há grandes oportunidades. No aumento da eficiência da utilização dos recursos disponíveis, dos equipamentos, das instalações, das matérias-primas, dos estoques, da mão de obra etc., assim como no aumento da produtividade específica e geral desses recursos, o empresário é capaz de encontrar estratégias mais seguramente exitosas para fazer frente às dificuldades trazidas pela reversão conjuntural do cenário macroeconômico. Quando o mercado voltar a crescer, ele terá uma outra empresa, mais enxuta e competitiva, enquanto muitos dos seus concorrentes deixaram de existir.