Mercado retraído, demissões, dificuldade financeira e muita instabilidade. Diante de cenários como esse, crises podem se instalar e exigir transformações coletivas.  Esse é o momento de inovar e acelerar seus projetos ligados à transformação digital nas indústrias?

Marília Cardoso, sócia-fundadora da PALAS – Inovação e Gestão, acredita que a crise imposta pela pandemia contribui para acelerar processos de transformação digital: “de uma hora para outra, empresas, governos e consumidores viram na digitalização a única alternativa para se manter funcionando neste momento”.

Seguindo a mesma linha, Graciela Arguelles, Vice-Presidente da Uipath para a América Latina, acredita que esse momento, sem precedentes, antecipou um novo jeito de produzir, no qual o trabalho remoto é o modelo vigente.

Transformação digital: essencial na gestão de crise

A transformação digital é um movimento que, segundo especialistas, como Alvin Toffler, teve início na década de 80. De lá para cá, essa tecnologia vem se acentuando dia após dia, principalmente com a ampliação do acesso aos recursos digitais.

Mas, diante do atual momento, diversas economias e setores, inclusive o setor industrial brasileiro, têm tido na transformação digital um instrumento importante para a gestão da crise relacionada à COVID-19, ajudando, também, na superação de desafios recorrentes do gestor industrial.

Segundo Graciela Arguelles, o atual momento veio para antecipar um novo jeito de produzir, no qual o trabalho remoto é o modelo vigente, cujas agilidade e qualidade no atendimento às novas necessidades de consumidores são fundamentais.

O foco no desenvolvimento de novas estratégias de negócio requer a tomada de decisão rápida, apoiada no pensamento crítico e em dados e informações precisos”, diz Graciela.

Investir na transformação digital é extremamente importante agora, pois irá ajudar indústrias de diferentes segmentos a reduzirem impactos negativos da crise, e permitir que operações não cessem ou mesmo que se ganhe mais agilidade em um momento da história em que a economia de tempo é fundamental.

Marilia Cardoso explica que o atual momento deve impulsionar também a busca por melhorias em gestão, onde as Normas ISO, como a recém-lançada ISO 56002, ligada à gestão da inovação, devem oferecer o suporte necessário para que indústrias consigam se transformar. “Esse deve ser o maior legado do coronavírus”, acredita a sócia-fundadora da PALAS.

Crises geram muita reflexão, mas conduzem à inovação

Toda mudança que ocorre de forma abrupta, como a que estamos vivendo agora, desperta muita reflexão, pois quando as coisas saem do controle, somos obrigados a repensar. É nesses momentos que buscamos fazer o mesmo ou mais – com o mesmo ou até menos. Saímos da zona de conforto e somos obrigados a repensar, a reinventar, a reformular.

Nesta conjuntura, Marília Cardoso explica que as crises funcionam como remédios bastante amargos, que extinguem mercados, mas criam campo fértil para o surgimento de outros. “Os gestores industriais precisam ter sabedoria para discernir entre o que já não funciona mais e ousadia para experimentar o que poderá funcionar no futuro”, ressalta.

Nesse contexto, a busca por mais eficiência e inovação, bastante ancorada na transformação digital, certamente viverá um salto.

Seguindo a mesma linha de pensamento, Graciela Arguelles acredita que sempre há espaço para inovar, mas crises “obrigam” as indústrias a inovar ainda mais rápido. “É certo que crises, como a que vivemos agora, aguçam essa percepção, levando a mudanças culturais e à adoção de novas ferramentas tecnológicas que aceleram o mindset digital nas indústrias”.

Outras crises podem servir de exemplo para as indústrias

 A atual crise do Coronavírus não é a primeira, nem será a última crise que o setor industrial terá que enfrentar. Neste contexto, é importante que as indústrias consigam se inspirar nos exemplos de crises já superadas.

Um dos melhores exemplos de inovação na crise citado por Marília Cardoso foi o impulsionamento da Revolução Industrial que ocorreu em decorrência da pandemia de cólera que acometeu o mundo no século XIX.

Nesta pandemia mais de 1 milhão de pessoas morreram. Só na Inglaterra, foram mais de 25 mil. O país, que já estava dando os primeiros passos rumo à construção das máquinas à vapor, teve que acelerar o processo porque não havia mão de obra suficiente nas indústrias locais”, explica Marília.

Marília complementa: “Antes da atual crise, nós estávamos flertando com a indústria 4.0 e, a pandemia do coronavírus também deve acelerar esse processo, visto que indústrias de todos os portes e segmentos precisarão se tornar mais eficientes”.

Mas, para que as indústrias superem essa crise, Graciela Arguelles indica a importância da gestão de pessoas e capacitação da mão de obra para a transformação digital, sendo esse um caminho sem volta.

Mesmo com todo o avanço tecnológico, entendemos que o principal ativo de qualquer indústria ou organização são as pessoas, e não as tecnologias. Para nós, encontrar meios para capacitar profissionais é uma das formas de gerir a crise e reter os melhores talentos em casa”, finaliza Graciela.

Assim, diante de toda essa crise fica claro que o mundo definitivamente não será o mesmo e o jeito de produzir e trabalhar também não. Portanto, investir em transformação digital pode fazer com que indústrias atinjam um novo patamar.