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Carro elétrico: crescimento da demanda exige adaptação da indústria automotiva

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Mesmo que de maneira ainda tímida, o carro elétrico vem ganhando espaço no Brasil, exigindo adaptação de toda a cadeia da indústria automotiva

Cada vez mais popular na China, Estados Unidos e Europa, o carro elétrico começa a buscar seu espaço no Brasil. Ainda que de forma sútil, a indústria automotiva nacional começa a se preparar para esse novo cenário e as oportunidades que ele traz.

Para viabilizar tanto a fabricação quanto a comercialização do carro elétrico no País, autoridades e indústrias do setor começam a olhar para este segmento com outros olhos, mas com uma série de desafios.

A transição para a fabricação de veículos elétricos exigirá uma profunda transformação de processos e ferramentas nas linhas de produção da indústria automotiva e de seus fornecedores. 

Carro elétrico: crescimento mundial acelerado, mas lento no Brasil

Nos últimos anos, muitos países começaram a restringir e eliminar gradualmente a produção de veículos a combustão. Consequentemente, a corrida em direção aos carros elétricos se acelerou.

Enquanto o mercado geral de carros a combustão apresentou uma contração em 2020, as vendas de elétricos contrariaram a tendência: as vendas mais que dobraram, atingindo 6,6 milhões de unidades produzidas em 2021. Com isso, a participação dos carros eletrificados nas vendas globais saltou de 4,1% para 8,57%. 

No Brasil, a eletrificação ainda é consideravelmente lenta, mas mesmo assim a frota triplicou entre 2020 e 2023. Em comparação com 2015, o número é cerca de 40 vezes maior. A expectativa é que o crescimento se acelere nos próximos anos.

Todo esse aumento da demanda exigirá uma profunda transformação de processos e ferramentas nas linhas de produção de fabricantes de veículos e de fornecedores. 

Estimativas da ANFAVEA indicam que o mercado exigirá R$150 bilhões em investimento nos próximos 15 anos, que serão usados no avanço da tecnologia e da infraestrutura da indústria automotiva e de produtores de combustíveis/energia.

ESG e descarbonização: carros elétricos não são a única solução

Especialistas na área de descarbonização do setor automotivo têm a certeza que o Brasil precisa se integrar à realidade mundial.

Mas, diferentemente do que ocorre em muitos países, o carro elétrico não será a única solução para promover a descarbonização da indústria automotiva nacional.

Acredito que não teremos apenas uma única solução. O Brasil já provou ter tecnologia suficiente para que o Etanol seja um importante protagonista nesse contexto como um todo”, destaca Fabio Delatore, professor de engenharia elétrica da FEI (Fundação Educacional Inaciana Pe.Sabóia de Medeiros).

Segundo o professor, há muitas soluções que podem atender diferentes nichos de mercado e que podem ter diferentes configurações para tal:

  • BEV (Battery Electric Vehicle) que possa atender demandas mais urbanas;
  • BEV com fuel cell, visando aplicações onde não há a necessidade de ficar dependente de um ponto de recarga;
  • PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle) com motor 100% etanol e turbo, como uma solução ainda a combustão, mas que faça o ciclo completo (well to wheel) ser do ponto de vista de mitigação de carbono emitido, mas favorável em virtude da plantação de cana ser um belíssimo supressor de carbono da atmosfera;
  • Mild hybrid 48V, também usa motor turbo e etanol, como uma solução de entrada e de mais baixo custo, por exigir uma quantidade menor de alterações no veículo original apenas com motor a combustão.

Diante dessas muitas possibilidades, o professor reforça que ter uma frota toda elétrica será sim a solução para alguns países, mas pode não ser a única solução para todo tipo de cenário. 

Temos visto movimentos voltados para a gasolina sintética, que apesar de nesse momento ser de produção cara e complexa, é sim uma alternativa”, salienta.

Adaptação das fábricas será uma exigência

A tecnologia da fabricação do carro elétrico já é dominada em vários países do mundo e podem sim ser o modelo para as fábricas brasileiras, como destaca Henry Joseph Jr, diretor técnico da ANFAVEA.

Já temos tecnologia disponível. A questão do desenvolvimento e produção de carros elétricos é apenas uma questão de opção mercadológica”. 

Fabio Delatore também vê que a adaptação da indústria automotiva nacional é plenamente possível. Segundo o professor da FEI, o processo de montagem de um carro elétrico não difere do carro a combustão, salvo a parte específica de montagem de cabeamento e da bateria, propriamente dito. 

O grande problema, segundo o diretor da ANFAVEA, são as baterias. “Hoje a China domina a produção de baterias no mundo, Europa e EUA correm atrás para ter produção própria, seja por meio de fornecedores, seja por meio das próprias montadoras”. 

Além disso, é importante destacar que uma fábrica de bateria demanda altíssimo investimento, além de demorar de 2 a 3 anos para começar a operar, sem falar das questões de fornecimento de metais nobres como o lítio, entre outros. 

Outra questão que gera preocupação é com os packs de bateria que precisam ser armazenados para posterior montagem no carro. “Tal fato demandará um armazém específico para tal, com pessoal treinado para combate a incêndio”, afirma.

Conhecimento específico dos profissionais também será necessário

Para entrar neste segmento, melhorar a qualidade e reduzir o preço do carro elétrico, é preciso maior flexibilidade e colaboração em toda a cadeia. Nesse contexto, o investimento em automação, digitalização e conectividade adquirem grande protagonismo no setor.

Mas, além de todo o aporte tecnológico, há também a necessidade de adaptação e treinamento de profissionais em todas as áreas, desde a fabricação de componentes, de veículos na linha de montagem, até de manutenção nas concessionárias e oficinas independentes.

Segundo, Fabio Delatores serão exigidos profissionais devidamente treinados nas questões que envolvem os manuseios e operações com alta tensão. 

Serão exigidos profissionais capacitados para realizar alguma montagem final do carro, no momento de conexão de todo o cabeamento de High Voltage com o pack de baterias do carro”, finaliza.

Quer saber mais? Confira também o que é a Rota 2030!

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