A indústria brasileira vive diversos paradoxos e um deles está relacionado à mão de obra qualificada. Como exemplo, falaremos do que acontece em São Paulo.

Embora o estado esteja sempre operando e investindo em inovação, encontra diversos problemas para preencher suas vagas com os talentos necessários. E uma recente pesquisa feita pela FIESP chamada “Rumos da Indústria Paulista: Mercado de Trabalho” revelou esse gargalo.

Acompanhe a seguir os principais dados que detalham o cenário do trabalho no setor de indústrias.

Dados sobre mão de obra para a indústria

Entre os setores pesquisados pela FIESP estão: alimentos e bebidas, têxtil, vestuário, calçados, madeira e móveis, papel e celulose e impressão. Também, petróleo, químico, plástico, metalurgia, máquinas e equipamentos, veículos, entre outros.

Segundo a entidade, “as áreas ligadas à produção se destacam na necessidade de mão de obra na indústria paulista”.

A contratação, no entanto, tem revelado desafios para a indústria, sendo uma das principais barreiras para o crescimento e a competitividade. De acordo com o levantamento em questão, 77,1% das indústrias paulistas que buscavam novos empregados entre o início de 2024 e março de 2025 relataram que o processo de seleção foi difícil ou muito difícil.

Tal cenário se torna ainda mais preocupante quando a faixa etária é observada. Isso porque a maior parte dos entraves vem dos 21 aos 30 anos – cerca de 61%.

Outro destaque: 20,5% das pesquisadas pela FIESP que procuraram novos funcionários no período em questão simplesmente não conseguiram encontrar. Ou seja, parte das vagas de trabalho sofreram um bloqueio por completo pela falta de candidatos que atendam aos requisitos exigidos na empresa.

“Oito em cada dez indústrias indicam que contratam pessoas sem experiência com o intuito de formação de mão de obra. Nota-se, pelos respondentes, que quanto maior o porte da empresa, mais esta política se faz presente”, explica a FIESP.

Por que essa escassez ocorre?

A pesquisa, que além de qualitativa é quantitativa, indica diversas causas interligadas, de modo a revelar os motivos da escassez de mão de obra.

O primeiro é o desinteresse pelo modelo formal de trabalho. Entre os profissionais entrevistados, apenas 11% manifestaram o desejo de trabalhar na indústria, contra 58% que preferem atuar por conta própria. Além disso, há uma percepção de falta de flexibilidade e insegurança para 64% dos entrevistados.

Para a maioria, o emprego formal traz pouca flexibilidade na conciliação entre vida pessoal e profissional. E mais: 67% dos pesquisados acreditam que a carteira assinada deixou de garantir estabilidade.

De acordo com a FIESP, das indústrias que têm como política a contratação de aprendizes e/ou estagiários (65,6%), nove em cada dez os incentivam a estudar em cursos de interesse da organização com a possibilidade de efetivação. Percentual que é acompanhado, aproximadamente, em todos os portes.

A pesquisa aqui relatada mostra também que existe uma mudança significativa de valores entre os jovens talentos. A geração de hoje tem buscado maneiras de trabalho que ofereçam mais autonomia. Como exemplo, o empreendedorismo, as ocupações digitais ou em aplicativos.

Fora isso, há um déficit de qualificação e falta de compatibilidade entre a oferta e a demanda. Na indústria, muitas vagas exigem habilidades técnicas, porém muitos candidatos não possuem. Além disso, é preciso que os profissionais tenham conhecimento em tecnologias mais modernas, elevando o nível de exigência dos cargos. 

Ainda conforme a FIESP, “embora tenha muitos pontos positivos, como segurança e oportunidades de crescimento, a indústria precisa buscar estratégias para mudar a percepção dos jovens sobre as carreiras industriais”.

Impactos e expectativas do setor industrial

Apesar das dificuldades mencionadas na pesquisa da FIESP e apresentadas aqui, o mesmo estudo mostra um certo otimismo – embora moderado. A saber, no primeiro semestre deste ano, 34,8% das empresas participantes declararam intenção de contratar. Elas sinalizaram confiança numa retomada gradual do mercado.

O levantamento também revelou que 45,2% das indústrias perceberam um aumento no volume de produção e 44,1% registraram crescimento nas vendas internas em relação ao mesmo período de 2024.

Em contrapartida, 29,2% das indústrias reduziram o quadro de pessoal e 34,1% relataram estabilidade. Para a FIESP, isso demonstra que a geração de empregos ainda é contra barreiras significativas.

Qualificação profissional é indispensável para a indústria

Na pesquisa, a FIESP destacou que o principal caminho para reverter o quadro apresentado é investir continuamente em capacitação profissional. A federação defende que a formação técnica e tecnológica é fundamental para preparar trabalhadores para as novas demandas da indústria 4.0, por exemplo.

Aliás, é preciso ter competências específicas em automação, manutenção, eletrônica e gestão de processos.

Conforme a entidade, programas de qualificação alinhados às necessidades reais das empresas são o elo que pode aproximar a oferta da demanda, de modo a contribuir com a elevada produtividade e a inovação constante do setor.

Participaram da pesquisa da FIESP 369 indústrias de transformação do estado de São Paulo, de 12 segmentos, e de todos os tamanhos.

O levantamento mapeou quais dificuldades o setor industrial enfrenta na contratação de mão de obra, quais perfis de trabalhadores são mais buscados e quais áreas são mais demandadas.

“Precisamos correlacionar melhor as capacidades e necessidades presentes. A educação é importantíssima para que os trabalhadores se adaptem às mudanças tecnológicas, porque existem áreas em que ainda há muitas oportunidades.”

Confira a pesquisa Rumos da Indústria Paulista na íntegra. E veja também como a automação industrial demanda novos profissionais.