As aplicações da robótica colaborativa na indústria estão redefinindo o chão de fábrica moderno. Elas surgem como a solução direta para o principal desafio do setor: equilibrar a busca por eficiência com a necessidade de flexibilidade para demandas voláteis.
Onde a automação tradicional se mostra rígida, a integração dos cobots na automação industrial permite uma adaptação rápida e segura. Este movimento se consolidou: após um crescimento recorde no Brasil em 2023, o ano de 2024 representou a estabilização desse novo e elevado patamar.
O mais recente relatório World Robotics 2025 da Federação Internacional de Robótica (IFR) indica que, embora as instalações nas Américas tenham tido um ajuste natural após o boom, o volume global de instalações em 2024 foi o segundo maior da história, provando que a automação é um caminho sem volta.
Esse crescimento é impulsionado pelos robôs colaborativos, ou “cobots”. O mercado global de cobots, que já representa uma fatia superior a 10% de todas as instalações, deve crescer a uma taxa composta anual superior a 30% nesta década, de acordo com dados da Grand View Research.
Por isso, confira as aplicações da robótica colaborativa na indústria, desde a viabilidade prática, o cálculo de retorno (ROI) até a segurança operacional que viabiliza essa transformação.

Cobots vs. Robôs tradicionais
A robótica colaborativa é uma evolução da automação industrial. Diferente dos robôs tradicionais, que são grandes, rápidos e operam isolados em células de segurança, os cobots são projetados para interagir diretamente com humanos em um espaço de trabalho compartilhado.
Essa capacidade de colaboração remove barreiras físicas e financeiras, tornando a automação acessível até para pequenas e médias empresas que não podiam arcar com as complexas e caras células de segurança.
Segurança validada pelas Normas ISO como diferencial
A colaboração segura entre humanos e máquinas só é possível devido a um rigoroso conjunto de normas técnicas. Os cobots são equipados com sensores avançados que detectam forças anormais, limitando o impacto em caso de contato.
As normas-chave que regulamentam essa interação são a ISO 10218-1:2011 (requisitos de segurança para robôs industriais) e, de forma mais específica, a especificação técnica ISO/TS 15066 (robôs colaborativos e ambientes de trabalho).
A ISO/TS 15066 define os limites de força e pressão que um cobot pode exercer em contato com uma parte do corpo humano sem causar dor ou lesão.
O fim da necessidade de especialistas com a programação acessível
Uma das maiores barreiras da robótica tradicional era a programação complexa, exigindo engenheiros ou técnicos altamente especializados. Os cobots mudaram esse paradigma. A maioria pode ser programada por interfaces gráficas intuitivas, semelhantes a um tablet, onde o operador arrasta e solta blocos de comando.
Além disso, muitos modelos oferecem o “hand-guiding” (guiagem manual): o operador simplesmente move o braço do robô com as próprias mãos, gravando os pontos da trajetória. Isso reduz drasticamente a curva de aprendizado.
Operadores de linha, sem experiência prévia em robótica, podem ser treinados para configurar novas tarefas em questão de horas, não semanas.
Flexibilidade para “High-Mix, Low-Volume” como vantagem competitiva
O chão de fábrica moderno raramente produz um único item por milhões de unidades. A tendência é a “High-Mix, Low-Volume” (HMLV) — alta variedade de produtos em baixos volumes. A automação tradicional, fixa e cara, não é rentável nesse cenário, pois o tempo de setup (reconfiguração) é muito longo.
Os cobots, por serem leves, fáceis de programar e não exigirem grades, são a solução ideal. Um mesmo robô pode ser usado para alimentar uma máquina CNC pela manhã e ser movido para a linha de empacotamento à tarde.
Essa flexibilidade permite que a indústria automatize processos que antes eram considerados “inautomatizáveis”, ganhando agilidade e competitividade na manufatura avançada.

Confira: Como trabalhar com cobots na indústria?
Quais são as principais aplicações da robótica na indústria?
Quando se fala em “robótica na indústria”, as imagens mais comuns são as de grandes robôs em linhas de montagem automotiva, realizando soldas pesadas ou pintura em alta velocidade. Essas são, de fato, aplicações industriais clássicas, focadas em velocidade e volume, onde os robôs ficam isolados.
No entanto, a robótica moderna abrange muito mais. As quatro principais áreas de aplicação da automação industrial hoje incluem:
- Manipulação e montagem: inclui desde a solda pesada até a microeletrônica.
- Logística e manuseio de materiais: movimentação de peças, paletização e alimentação de linhas.
- Inspeção e controle de qualidade: uso de visão computacional e sensores para garantir a conformidade.
- Processos específicos: aplicação de selantes, pintura, polimento e corte.
A robótica colaborativa atua em quase todas essas áreas, mas com foco em tarefas que exigem flexibilidade e proximidade com o operador.
Confira: Aplicação da robótica na indústria: quais são os próximos passos?
Principais aplicações da robótica colaborativa na indústria
O verdadeiro valor dos cobots está em sua versatilidade. As aplicações de cobots no chão de fábrica são focadas em eliminar gargalos, reduzir riscos ergonômicos (LER/DORT) e liberar os operadores humanos para tarefas de maior valor agregado, como o controle de qualidade e a gestão do processo.
[Imagem de um cobot em uma linha de produção, trabalhando próximo a um operador]
1. Pick and place (Pegar e soltar)
Esta é a aplicação mais comum e fundamental. O cobot é usado para pegar peças de uma esteira, caixa ou bandeja e posicioná-las em outro local, como uma máquina, outra esteira ou na embalagem final.
- Problema que resolve: tarefas monótonas e altamente repetitivas, que causam fadiga humana, erros de manuseio e lesões por esforço repetitivo.
- Benefícios: aumento da cadência, operação 24/7, redução drástica de erros de montagem e liberação do funcionário para supervisionar o processo.
2. Inspeção de qualidade e metrologia
Equipados com sistemas de visão computacional (Vision Systems) ou sensores de alta precisão, os cobots tornam-se ferramentas de controle de qualidade incansáveis.
- Problema que resolve: a inspeção visual humana é subjetiva e suscetível à fadiga. A metrologia manual é lenta e propensa a erros.
- Benefícios: inspeção 100% das peças, detecção de micro defeitos, leitura de códigos (rastreabilidade), medições precisas e consistentes, e geração de relatórios de qualidade automáticos.
3. Montagem de precisão, parafusamento e soldagem leve
Cobots são ideais para tarefas que exigem consistência absoluta. Eles podem aplicar o torque exato em um parafuso centenas de vezes ou seguir um caminho complexo para aplicação de adesivo sem desvios.
- Problema que resolve: inconsistência na montagem manual (parafusos soltos ou espanados), aplicação irregular de selantes, e a falta de mão de obra para soldagem de baixo volume.
- Benefícios: qualidade de montagem superior, torque controlado e rastreável, economia de adesivos/selantes e capacidade de realizar soldas (TIG/MIG) de forma precisa em pequenos lotes.
4. Paletização e empacotamento (fim de linha)
No fim da linha de produção, a paletização manual é um trabalho pesado e de alto risco ergonômico. Células de paletização tradicionais, por sua vez, exigem um espaço físico enorme.
- Problema que resolve: gargalos no fim de linha, altos custos com lesões lombares e falta de espaço para automação convencional.
- Benefícios: os cobots de paletização têm um footprint (área ocupada) reduzido, podem ser facilmente reconfigurados para diferentes padrões de caixas e operam com segurança ao lado dos funcionários, sem necessidade de grandes grades.
5. Alimentação de máquinas (machine tending)
Uma das aplicações de mais rápido retorno (ROI), o machine tending consiste em usar o cobot para carregar e descarregar máquinas, como Centros de Usinagem (CNC), injetoras de plástico ou prensas.
- Problema que resolve: o operador fica “preso” à máquina, esperando o ciclo terminar para trocar a peça. Isso gera tempo ocioso e limita o operador a uma única máquina.
- Benefícios: o cobot assume a tarefa repetitiva, permitindo que a máquina opere em turnos extras (luzes apagadas) e libera o operador para gerenciar e inspecionar várias máquinas simultaneamente, aumentando a produtividade geral.

Entenda: Inteligência artificial na automação industrial: IA e da machine learning no setor
Cases de sucesso das aplicações da robótica colaborativa na indústria
A robótica colaborativa aplicada na indústria metalmecânica e em outros setores demonstra resultados práticos. A atualização de células robotizadas tradicionais para colaborativas, ou a primeira automação de PMEs, tem sido um vetor de competitividade.
Um exemplo clássico vem da ABB, que utiliza seus próprios cobots, como o YuMi, em suas fábricas para a montagem de peças eletrônicas complexas. O cobot realiza tarefas de precisão, como inserir componentes delicados, enquanto o operador humano realiza a inspeção final e testes.
A colaboração permitiu otimizar o layout da linha, aumentar a qualidade e manter a flexibilidade necessária para a montagem de diferentes produtos.
No setor alimentício, a Nestlé implementou cobots em suas linhas de empacotamento. Em uma aplicação, o robô colaborativo trabalha ao lado do operador para montar kits promocionais, pegando produtos diferentes e colocando-os na embalagem final.
A implementação eliminou um gargalo de produção e reduziu o esforço repetitivo dos funcionários, que agora supervisionam o processo e reabastecem a linha.
Saiba mais: Robôs para ambientes sensíveis são necessários em muitas indústrias
Como calcular o ROI das aplicações da robótica colaborativa na indústria
Para o gestor industrial, a pergunta mais importante é: “Qual o retorno financeiro?”. A viabilidade dos cobots se destaca quando analisamos não apenas o preço de compra, mas o Custo Total de Propriedade (TCO) e o tempo de payback (retorno do investimento).
Custo Total de Propriedade (TCO)
O TCO de um cobot é frequentemente menor que o de um robô tradicional. A análise deve ir além do custo de aquisição do braço robótico.
O TCO reduzido dos cobots se deve a:
- Baixo custo de integração: não exigem, na maioria das aplicações, grades de segurança caras, scanners de área ou pisos especiais.
- Implantação rápida: a programação intuitiva reduz drasticamente as horas de engenharia e consultoria necessárias para o setup.
- Baixo custo de treinamento: operadores da própria linha podem ser rapidamente capacitados para operar e reconfigurar o robô.
- Flexibilidade: o mesmo cobot pode ser realocado para diferentes tarefas, diluindo seu custo em várias linhas de produção.
A digitalização do processo, facilitada pelo cobot, também reduz custos de controle de qualidade e retrabalho.
Calcular o payback de um cobot
O payback de um cobot costuma ser surpreendentemente rápido, com muitos fabricantes e integradores relatando médias de 12 a 18 meses, e em alguns casos, menos de um ano.
Uma fórmula simples para estimar o payback é:

Onde:
- Custo Total de Implantação: Inclui o robô, garras (effectors), pedestais, sensores de visão (se houver) e horas de integração/treinamento.
- Ganhos Líquidos Mensais: (Custos de mão de obra direta economizados ou realocados) + (Ganhos de produtividade por peças/hora adicionais) + (Economia com redução de refugos/retrabalho) – (Custos de manutenção/energia do cobot).
Ao calcular os custos de mão de obra, é crucial incluir não apenas o salário, mas todos os encargos, impostos e custos associados a lesões (LER/DORT).
O impacto dos cobots no OEE
A integração dos cobots na automação industrial tem um impacto direto no Overall Equipment Effectiveness (OEE), o principal indicador de eficiência da Indústria 4.0.
| Indicador | Descrição |
|---|---|
| Disponibilidade (Availability) | Cobots podem operar 24/7. Em tarefas como machine tending, eliminam pausas do operador para troca de peças, permitindo que a máquina principal (como um CNC) opere por mais tempo. |
| Performance (Performance) | O cobot trabalha em ritmo constante e otimizado, sem fadiga. Ele reduz microparadas e assegura que a operação mantenha a velocidade de ciclo projetada. |
| Qualidade (Quality) | A precisão do robô em tarefas como montagem, parafusamento ou inspeção diminui refugos e retrabalho, aumentando a taxa de peças boas na primeira passagem. |
Leia também: Por que sua fábrica precisa de robôs móveis?
Como garantir segurança e capacitação para o uso dos cobots na indústria?
Implementar robôs colaborativos exige uma mudança de mentalidade, focada em segurança colaborativa e na capacitação da equipe.
Análise de Risco
É o ponto mais importante: “colaborativo” não significa “automaticamente seguro”. O robô em si é projetado com recursos de segurança, mas a aplicação como um todo deve ser segura. Se o cobot estiver manuseando uma faca afiada ou uma peça em alta temperatura, o risco não vem do robô, mas da ferramenta.
Uma Análise de Risco profissional, baseada nas normas ISO, é mandatória. Ela avalia a ferramenta, a velocidade da operação, o layout da célula e o tipo de interação humana. É essa análise que define qual modo de colaboração seguro será utilizado.
Modos de colaboração segura
A ISO/TS 15066 define os quatro principais modos de operação colaborativa. Muitas vezes, uma aplicação utiliza uma combinação deles:
- Parada de segurança monitorada: o robô opera em alta velocidade quando o humano está fora da zona de trabalho, mas para totalmente (em modo seguro) quando o operador entra, permitindo a interação.
- Guiagem manual (Hand-Guiding): o operador guia o robô manualmente (com o robô energizado) para tarefas de precisão, usando sua cognição para guiar a força do robô.
- Monitoramento de velocidade e separação: usando scanners de segurança, o robô reduz sua velocidade à medida que o humano se aproxima, parando apenas se o contato for iminente.
- Limitação de potência e força: este é o modo mais comum. O robô é projetado para que, em caso de colisão inesperada, a força do impacto seja limitada a níveis seguros, não causando lesões.
O papel do novo operador com os cobots
A introdução de cobots raramente visa a substituição de mão de obra. O objetivo é a realocação. O funcionário deixa a tarefa “3D” (Dirty, Dangerous, Dull – Suja, Perigosa, Monótona) e é elevado a uma função de maior valor.
O novo operador se torna um “supervisor de robôs”. Suas tarefas passam a ser:
- Gerenciar o setup e a programação de novas tarefas.
- Realizar o controle de qualidade das peças que o robô produz.
- Gerenciar o fluxo de materiais para manter o robô abastecido.
- Analisar os dados de produção que o cobot gera.
O treinamento necessário foca na operação da interface do cobot e em conceitos básicos de segurança, sendo muito mais acessível que a programação robótica tradicional.
O futuro das operações dos robôs colaborativos no setor industrial
As operações dos robôs colaborativos no setor industrial estão apenas começando. A tendência é a integração cada vez maior com Inteligência Artificial e sistemas de visão, tornando-os mais fáceis de programar (ex: “veja e aprenda”) e mais adaptáveis a ambientes não estruturados. Os cobots tornaram a automação democrática, flexível e segura.
O sucesso da implementação não está em comprar o robô mais avançado, mas em identificar a aplicação correta e realizar uma análise de risco criteriosa. Com esses pilares, as aplicações da robótica colaborativa na indústria garantem um rápido retorno sobre o investimento (ROI) e posicionam a empresa para os desafios da manufatura moderna.
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