Nos últimos quatro anos, o consumo aparente de máquinas e equipamentos no Brasil caiu 51%, refletindo o baixo investimento da indústria nacional, cujo “parque de máquinas ficou ainda mais atrasado do que já era”, como bem lembrou José Velloso, presidente executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) em entrevista recente ao nosso canal.

A cultura da maioria dos nossos industriais é de frear imediatamente os investimentos em períodos de redução da demanda na tentativa de conter os custos. É como aplicar, a grosso modo, estratégias de economia doméstica em escala industrial. Sem dúvidas, gastar menos com itens supérfluos tende a ser uma medida muito efetiva na dinâmica familiar, mas as variáveis da gestão industrial são outras.

Gastar menos não resolverá o problema de uma indústria, independentemente do seu setor de atuação. A melhor saída é, sim, aumentar a produtividade a partir de investimentos estratégicos.

No 3º Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos, realizado em setembro deste ano em São Paulo, Gabriel Galipolo, mestre em economia política da PUC/SP, usou a estratégia adotada pelo parlamento europeu para conter o avanço industrial da China para exemplificar a importância de se investir mesmo em momentos adversos. Na ocasião, a solução encontrada pelo parlamento para aquecer novamente o mercado europeu e recuperar a demanda perdida para os chineses seguiu o seguinte raciocínio: “se a vantagem competitiva da China é a mão de obra barata, nós vamos investir em automatização para reduzir essa vantagem. E por estarmos mais próximos do polo consumidor, ganhamos ainda em logística”, conforme apontou Galipolo.

Eles poderiam simplesmente parar de investir, já que a demanda era menor. Mas ao invés disso, voltaram todos os esforços para as tecnologias que eram capazes de aumentar a produtividade e, portanto, a sua competitividade. O resultado é que hoje os chineses já não oferecem o mesmo risco, pois também tiveram que investir mais para melhorar os seus produtos frente à concorrência acirrada.

Mas como devo investir?

Segundo Pedro Parreiras, mestre em engenharia de produção e sócio-fundador da Nomus, uma das ferramentas de gestão que os profissionais da indústria têm à disposição para investir de forma certeira é a chamada teoria das restrições. “Ela consiste na identificação do gargalo, ou seja, do recurso que está restringindo a produção. A partir daí, o gerenciamento de uma fábrica passa a ser feita do ponto de vista do gargalo”, explica.

Por exemplo: caso seja identificado que uma máquina de tecnologia obsoleta está comprometendo a produção da empresa, é chegada a hora de substituí-la.

Conhecer as tecnologias disponíveis no mercado

Uma vez identificada a necessidade de trocar algum equipamento, também é importante apontar as funções que o recurso substituto deve ter para sanar o gargalo da produção.

Além disso, sobretudo na era da Manufatura Avançada, uma importante questão deve ser atendida: o equipamento “conversará” com as demais máquinas do seu chão de fábrica?

Para a melhor escolha, é imprescindível conhecer as opções disponíveis no mercado, as tecnologias de ponta, os fabricantes nacionais e também os de fora. Nesse sentido,  visitar feiras e eventos industriais é imprescindível. Isso porque, em um ambiente único, estarão reunidos os principais players da indústria, ávidos por mostrar in loco os benefícios de seus equipamentos. Certamente, você sairá de lá com várias alternativas em mente.

Como pagar?

Quando falamos em investimentos, a dúvida comum é de que forma financiá-los – recorrer a um aporte próprio ou pedir empréstimos junto a instituições financeiras privadas ou públicas. Na realidade, esta é uma questão “pessoal”, pois envolve variáveis muito particulares, que oscilam à mercê dos indicadores econômicos.

Apesar disso, todas as alternativas devem ser consideradas bem antes, quando o investimento é apenas uma ideia. Isso porque o meio de pagamento pode influenciar na decisão de importar um equipamento ou comprá-lo localmente, por exemplo. Afinal, os financiamentos via BNDES, que via de regra oferecem prazos mais longos e juros reduzidos, se restringem a compras de equipamentos nacionais, com 60% de conteúdo local. Esta é uma das exigências do banco para o credenciamento de fornecedores da indústria de máquinas e equipamentos, sistemas industriais e componentes.

Colhendo os frutos

Uma vez atendidas todas essas etapas, com os equipamentos já instalados, os testes e treinamentos realizados, a hora é de divulgar o seu ganho produtivo. Diversificar os seus nichos de mercado, exportar e mostrar ao seu cliente a sua visão inovadora de gestão em crise.

Certamente, este movimento contará a favor da sua empresa na próxima concorrência, além de contribuir para o fortalecimento da competitividade e das bases da sua indústria.