A economia global tem como uma das maiores influências a taxa de câmbio, cujo impacto nas operações industriais é direto e significativo. Essa verdade é ainda mais absoluta para empresas que dependem do comércio exterior – tanto para a importação quanto para a exportação.
De acordo com Francisco Pereira, CEO da Trademaster, a contenção da inflação, por exemplo, contribui para a estabilização da economia em todos os sentidos, o que pode gerar um ambiente mais favorável para o crescimento sustentável da indústria.
“Além disso, as exportadoras podem se beneficiar da valorização cambial associada à alta dos juros, o que aumenta a competitividade de seus produtos no mercado externo.”
Ou seja, é fundamental que o setor de manufatura compreenda os efeitos da taxa de câmbio para qualquer tomada de decisão. Isso porque tais valores podem afetar os custos da produção até a competitividade no mercado.
Como a taxa de câmbio impacta a indústria?
Sabemos que a taxa de câmbio é referente ao valor de uma moeda em relação a outra, correto? Por isso, organizações que operam por meio de transações internacionais tendem a enfrentar riscos cambiais arriscados para as margens de lucro.
Se a gestão não estiver devidamente preparada, pode pôr tudo a perder.
Câmbio e importações
Qualquer país com moeda desvalorizada paga mais pelas importações, impactando diretamente a cadeia de suprimentos. Logo, a indústria, que depende de insumos e matérias-primas pode ter um aumento significativo dos custos de produção.
Em contrapartida, quando há uma valorização da moeda, as importações ficam mais baratas, contribuindo com a atuação do ramo industrial.
Câmbio e exportações
Ao mesmo tempo em que para importar é melhor ter uma moeda mais valorizada, quando ela está abaixo do mercado global, pode tornar as exportações mais competitivas. Isso porque os produtos fabricados no respectivo país se tornam mais acessíveis para os estrangeiros.
A demanda aumenta, gerando receita para os exportadores.
Mas essa não é uma regra e, muito menos, a única solução para um país. Não, porque a desvalorização excessiva tende a criar incertezas e instabilidades. Ou seja, prejudica as projeções de receita.
Para Francisco, qualquer cenário de retração acaba impondo um desafio duplo para a indústria: lidar com a menor demanda e, ao mesmo tempo, com o aumento dos custos de produção, impulsionados pela inflação.
“Com as margens apertadas, muitas empresas se veem obrigadas a repassar os custos aos consumidores, agravando ainda mais a situação de queda nas vendas.”
Carga tributária e o câmbio
A carga tributária tem uma grande importância quando o assunto é a taxa de câmbio. Pelo menos, aqui no Brasil.
Embora o país não tenha a maior carga tributária do mundo, segundo especialistas da Unicamp, ela é considerada alta, com impostos sobre a produção, circulação de mercadorias, importação e exportação. Também, contribuições sociais e demais fatores que impactam diretamente os custos dos sistemas operacionais.
Taxa de juros
Outro componente essencial para a tomada de decisão da indústria é a taxa de juros. Ela afeta o custo do crédito e, consequentemente, a capacidade de investimento das companhias.
Por aqui, a taxa de juros é uma das mais altas do mundo, influenciando diretamente as empresas que carecem de capital para expandir as atividades ou investir em projetos diferenciados.
“A elevação dos juros também impacta diretamente o consumo das famílias, um dos principais motores da demanda por produtos industriais. Com o crédito mais caro e as contas mais altas, as famílias reduzem o consumo de bens como eletrodomésticos, automóveis e móveis, afetando setores industriais que dependem da demanda interna”, completa o especialista.
Taxa Selic
A taxa Selic é a taxa mais básica de juros da economia brasileira, sendo definida pelo Banco Central. Ela tem um efeito direto sobre o mercado, com influência sobre o custo do crédito para empresas e consumidores.
Podemos dizer que a Selic é essencial para a política monetária, capaz de controlar a inflação e a atividade econômica.
Segundo Francisco, nos últimos anos, a economia brasileira tem enfrentado um cenário desafiador, marcado por oscilações da taxa Selic. Esta, por sua vez, conseguiu chegar, por vezes, nos dois dígitos. E isso afeta o encarecimento do crédito.
“Essa alta reflete, principalmente, o esforço do Banco Central para controlar a inflação e equilibrar as pressões macroeconômicas. No entanto, esse movimento afeta diretamente diversos setores da economia, especialmente a indústria, que tem seu desempenho comercial impactado pela respectiva taxa”, explica Francisco.
Por que falarmos sobre a Selic neste conteúdo? Porque quando ela está em alta, os financiamentos ficam mais caros e as indústrias têm mais dificuldades para obter recursos financeiros. Com isso, há uma desaceleração do crescimento industrial e da modernização do setor.
Além disso, o consumo interno acaba sendo desincentivado, impactando na demanda por produtos nacionais.
A Selic e a taxa de câmbio
A taxa Selic tem grande influência sobre a taxa de câmbio. Ela influencia na atratividade da moeda brasileira para os investidores estrangeiros.
Quando está elevada, o país pode atrair mais investimentos do mercado externo, valorizando assim a moeda nacional e beneficiando a indústria. No entanto, é preciso balancear. Uma valorização absurda pode prejudicar as exportações.
Francisco diz que, embora a alta da Selic seja, em tese, uma medida temporária para conter a inflação, seus efeitos na indústria podem ser duradouros. Para ele, é preciso ponderar diversas frentes.
“A retração do consumo também pode resultar em uma desaceleração do ritmo de produção e na consequente redução de empregos no setor industrial”, finaliza o colaborador do portal A Voz da Indústria.