Enquanto o mercado e o mundo de uma forma geral entram cada vez mais numa espiral complexa e cheia de incertezas e volatilidade, a expectativa em volta da indústria continua sendo a mesma: alta previsibilidade, eficiência e controle.

Esse cenário gera desafios para o crescimento de uma empresa que, internamente, é instigada a produzir a um custo menor e a investir em estratégias que aumentem a prognose e o controle.

Entre elas, sistemas padronizados, automação e processos explícitos que possam guiar a mão-de-obra.

No entanto, externamente, ainda é preciso lidar com temas que desafiam as práticas com frequência e levam a mudanças e transformações que precisam acontecer em um tempo cada vez menor.

Quais são os desafios para o crescimento de uma empresa?

Segundo Alexandre Magno, CEO da The Cynefin Co Brazil, as fábricas, dentro do contexto da corporação, estão no que ele chama de domínios ordenáveis.

“Ou seja, quando processos altamente definidos determinam as ações dos colaboradores e/ou quando há a dependência de especialistas para a tomada de decisão.”

Para o CEO, o desafio citado neste conteúdo vem, normalmente, a partir da esfera dos negócios. É preciso trazer para dentro das fábricas o que está sendo percebido “lá fora”. “E, de fato, o que vem dos negócios tem sido cada vez mais incerto e volátil”.

Ainda de acordo com ele, este cenário, no entanto, leva a um dilema: de um lado a indústria quer (e precisa) manter a ordem, do outro a complexidade dos negócios desafia cada vez mais essa ambição.

“Isso, sem citar as situações de caos e confusão também presentes no contexto industrial e que exigem respostas próprias.”

Como superar os desafios?

“Para superar esses desafios é preciso compreender que as lideranças das empresas na indústria devem utilizar o racional para entender melhor o contexto que têm a sua frente antes de tomar decisões que impliquem tanto no estratégico como no operacional”, diz Alexandre.

Sabendo dessa potencial volatilidade, as empresas não devem tratar tudo da mesma forma, mesmo dentro das fábricas, mas sim implementar um sistema racional coerente que ajude a perceber tal variabilidade de contextos antes da tomada de decisões.

O especialista exemplifica com as experiências da Cynefin. “Nessa linha, o framework Cynefin equipa a liderança para que ela entenda melhor o tipo de situação que está vivendo, bem como o nível de complexidade do problema e a melhor forma de agir”.

Isso porque, segundo ele, por meio de um processo conhecido como Sensemaking, o framework leva o decisor a entender o que é possível num dado contexto.

“Por exemplo, se o framework me ajuda a entender que estou vivendo uma situação de alta complexidade, não adianta eu tentar responder com mais padronização e política de eficiência, já que isso seria contraproducente.”

Fato é que, para superar os desafios, as empresas precisam de flexibilidade, rapidez e experimentação.

Case na indústria

Um bom exemplo de superação, segundo Alexandre, é o que vemos com alguma frequência na combinação de decisão e ação praticada pela brasileira Ambev. “Ainda no início da pandemia, por exemplo, eles olharam para o mercado e perceberam que na China já começavam a faltar ingredientes básicos para sanitizantes. Precisou-se, então, entender a complexidade do contexto global e, ao olhar para o local, enxergar o que poderia ser feito”.

A saber, a Ambev produziu álcool em gel no período mais crítico da pandemia, aproveitando o seu estoque, devido à produção.

Para o CEO, havia ali uma oportunidade de ação, mas antes foi necessário tomar uma difícil decisão: esse processo adicional e experimental certamente reduziria momentaneamente a produtividade e a eficiência das fábricas e ainda exigiria mobilização de pessoas e investimento. E ainda poderia falhar.

Como e quando agir? A resposta foi rápida. Em uma semana a empresa tinha realizado todos os experimentos necessários e estava pronta para produzir álcool em gel em larga escala. Pôde, então, focar na eficiência.

Ponto-chave

A Ambev ainda teve que tomar uma outra decisão: transformar a produção do álcool em gel em uma linha de negócios que beneficiaria seus cofres ou utilizar a situação como uma oportunidade para ganho de reputação doando todo o álcool em gel para hospitais?

Por tudo que vivíamos no contexto mundial naquele momento, havia a clareza de que a segunda opção era a melhor escolha.

“Nesse exemplo, percebemos que a empresa soube entender onde havia complexidade e onde havia clareza nos contextos. Com isso, tomou decisões respeitando essa condição, mesmo que isso implicasse em algum risco.”

Alexandre explica que, para superar os desafios, é muito importante que as empresas saibam como surpreender.

Ou seja, é fundamental que evitem lidar de forma previsível e clara em situações complexas – um erro comum entre executivos e gestores na indústria.

“No caso da Ambev, se fosse algo claro ou óbvio, todos teriam feito o mesmo rapidamente. A provocação que fica para a indústria e seus líderes é: será que precisamos de uma pandemia para agir de forma contextualizada frente à complexidade crescente do mercado? Espero que não, afinal, temos oportunidades que passam despercebidas por aí”, finaliza.