A busca por fontes alternativas de energia para a indústria metalmecânica deixou de ser apenas uma pauta ambiental para se tornar uma estratégia vital de sobrevivência financeira.

Em um cenário onde a eletricidade representa um dos maiores custos fixos na fundição, usinagem e soldagem, diversificar a matriz energética é sinônimo de proteger a margem de lucro.

Segundo dados recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o custo da energia elétrica no Brasil está entre os mais altos do mundo para o setor produtivo. Diante disso, gestores precisam olhar além da concessionária local.

Para Alberto Machado, diretor-executivo na Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), a equação deve ser balanceada. “O CO2 é prejudicial, mas a falta de energia também. O foco não pode ser desviado somente para um lado”, comenta, reforçando que a segurança energética deve andar de mãos dadas com a descarbonização.

Por que a energia se tornou importante na indústria?

Antigamente vista apenas como uma “conta a pagar” no final do mês, a energia agora é um ativo estratégico. A volatilidade das tarifas e a pressão por práticas ESG transformaram a gestão energética em um diferencial competitivo crucial para fábricas que desejam se manter relevantes no mercado global.

Impacto nos custos operacionais e competitividade

Para o setor metalmecânico, a energia não é apenas um insumo, é a força motriz que define o preço final da peça. Indústrias que dependem exclusivamente da rede convencional ficam reféns das bandeiras tarifárias e da inflação energética.

Migrar para fontes alternativas ou negociar no Mercado Livre de Energia permite previsibilidade de caixa, possibilitando orçamentos mais agressivos e competitivos frente à concorrência internacional.

O perfil de consumo na metalurgia

Diferente de outros setores, a metalurgia possui “devoradores” de energia específicos. Fornos de indução na fundição, processos de soldagem (MIG/TIG) intensivos e centros de usinagem (tornos CNC) operando em múltiplos turnos demandam uma carga constante e alta.

Entender esse perfil é o primeiro passo para escolher a fonte alternativa correta: o que funciona para um escritório não necessariamente sustenta um forno de tratamento térmico.

Saiba mais: Entenda por que o Mercado Livre de Energia viabiliza fontes de energia sustentáveis

As principais fontes alternativas de energia para a indústria metalmecânica

Não existe uma “bala de prata”, mas sim um mix energético ideal para cada planta industrial. Sobre as respectivas fontes alternativas de energia para a indústria, Alberto Machado é taxativo: “nos resta identificar essas oportunidades e aproveitá-las ao máximo em prol do desenvolvimento nacional”.

Energia solar fotovoltaica

A energia solar já é uma realidade consolidada, mas na indústria ela vai além dos painéis no telhado. Para galpões com estruturas complexas ou sombreamento, a Geração Distribuída (GD) em terrenos adjacentes ou fazendas solares remotas é uma solução viável.

Além de reduzir a demanda de pico, o sistema fotovoltaico blinda a empresa contra aumentos repentinos na tarifa, oferecendo um ROI cada vez mais atrativo.

Energia eólica e o Mercado Livre

Para grandes indústrias, a instalação de turbinas eólicas on-site é rara, mas o acesso a essa fonte se dá através do Mercado Livre de Energia (ACL).

Através de contratos de longo prazo (PPA – Power Purchase Agreements), metalúrgicas podem comprar energia certificada de parques eólicos, garantindo fornecimento limpo e previsibilidade de custos por décadas, sem precisar investir na infraestrutura de geração.

Biomassa e biogás

A biomassa é a campeã quando o assunto é energia térmica. Para indústrias que utilizam caldeiras e fornos, substituir combustíveis fósseis por resíduos industriais, cavacos de madeira ou biogás proveniente de aterros é uma estratégia inteligente.

Além de gerar eletricidade, o biogás pode ser purificado em biometano, servindo como combustível para frotas internas e empilhadeiras.

Hidrogênio verde

Considerado o combustível do futuro para a siderurgia, o Hidrogênio Verde tem potencial para substituir o coque (carvão) na redução do minério de ferro e em fornos de altíssima temperatura.

Embora a infraestrutura de produção e armazenamento ainda esteja em desenvolvimento, projetos pilotos já mostram que o H2V será essencial para a descarbonização completa de processos térmicos intensivos que a eletricidade sozinha não consegue suprir.

Confira abaixo um comparativo para escolher a matriz energética ideal para a sua indústria:

Fonte de Energia Melhor Aplicação na Metalmecânica Principal Benefício
Solar (Fotovoltaica) Iluminação, administrativo, maquinário leve. Redução da fatura mensal e facilidade de instalação.
Eólica (via Mercado Livre) Alimentação geral da planta (Alta Tensão). Previsibilidade de custos e contratos de longo prazo.
Biomassa Caldeiras, fornos e processos térmicos. Aproveitamento de resíduos e alta eficiência térmica.
Hidrogênio Verde Siderurgia, redução de minério, fornos de alta temperatura. Descarbonização profunda de processos pesados.

Veja também: O que é o Mercado Livre de Energia? Como funciona, vantagens e 7 passos para sua empresa acessar

Eficiência energética como fonte invisível de economia na indústria

A energia mais barata e limpa é aquela que não precisa ser gerada. Antes de investir em novas fontes, é crucial estancar os desperdícios. Programas de eficiência energética atuam como uma “fonte virtual”, liberando capacidade elétrica sem a necessidade de novas conexões.

Cogeração e aproveitamento de calor residual

Na fundição e tratamento térmico, toneladas de calor são desperdiçadas pelas chaminés. Sistemas de cogeração capturam esse calor residual para aquecer água, gerar vapor para outros processos ou até mesmo produzir eletricidade adicional.

Transformar um subproduto (calor) em insumo reduz drasticamente a necessidade de comprar combustível externo.

Modernização de motores e inversores

Motores elétricos antigos são vilões silenciosos do consumo. A substituição por motores de alto rendimento, acoplados a inversores de frequência (drives), permite que a máquina utilize apenas a energia necessária para a carga do momento.

Em sistemas de bombeamento e ventilação industrial, essa modernização pode reduzir o consumo em até 30%.

Confira: Energia pode ser economizada com adoção da Indústria 4.0

Custos ao investir em fontes alternativas de energia na indústria metalmecânica

A transição energética exige CAPEX, mas deve ser analisada sob a ótica do custo-benefício a longo prazo. “É necessário formatar um quadro político de transição, de modo a se obter o melhor resultado possível”, explica o diretor da ABIMAQ, referindo-se à importância de suporte regulatório para viabilizar esses projetos.

Como calcular o payback de projetos de energia?

O cálculo de payback deve considerar não apenas a economia na conta de luz, mas também a redução de custos de manutenção, a venda de excedentes (no caso da solar) e a proteção contra a inflação energética.

Atualmente, projetos solares industriais têm payback médio entre 4 a 6 anos, enquanto a vida útil do sistema ultrapassa 25 anos, gerando “lucro puro” por duas décadas.

Incentivos fiscais e linhas de crédito

O Brasil oferece mecanismos para acelerar essa adoção. Linhas de financiamento do BNDES (como o Fundo Clima) e da Finep oferecem taxas de juros subsidiadas para projetos de inovação e sustentabilidade.

Além disso, isenções fiscais como o REIDI (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura) podem reduzir o custo de aquisição de equipamentos para geração de energia renovável.

Saiba mais: Autoprodução de energia é possibilidade para indústrias

Quais são os desafios ao implementar fontes alternativas de energia na indústria?

Apesar dos benefícios, a jornada não é isenta de obstáculos. A intermitência de fontes como solar e eólica exige sistemas de backup robustos ou baterias de armazenamento (BESS), que ainda possuem custo elevado.

Além disso, a integração com a rede elétrica existente e a adequação às normas de segurança (NR-10, NR-12) requerem engenharia especializada.

Há também o desafio da capacitação: equipes de manutenção acostumadas com sistemas convencionais precisam ser treinadas para operar plantas fotovoltaicas ou lidar com a segurança do hidrogênio.

Veja mais: Energia 3D para a indústria: descarbonização, descentralização e digitalização

O futuro da energia industrial está na sustentabilidade

A transição energética na indústria metalmecânica é um caminho sem volta. Ela une a responsabilidade ambiental com a inteligência de negócios. Ao diversificar as fontes e investir em eficiência, a indústria nacional se torna mais resiliente e preparada para um mercado que exige produtos verdes.

Para encerrar, a visão deve ser sistêmica. “Deve haver um equilíbrio entre os fatores econômicos, ambientais e de segurança energética”, finaliza Alberto Machado. A indústria do futuro será aquela que conseguir produzir mais, gastando menos recursos e gerando menor impacto.

Gostou do conteúdo sobre as fontes de energia alternativas para a indústria? Continue acompanhando mais informações e tendências sobre o setor metalmecânico com A Voz da Indústria, o portal de conteúdo das feiras EXPOMAFE e FEIMEC.

Leia também