Herói brasileiro,
Santos Dumont deixou sua marca na história mundial. Mas como sua trajetória se
relaciona à história da Indústria?
Há 113 anos, em 23 de outubro de 1906, na França, um
brasileiro entrava para a história mundial. A bordo de seu 14-Bis, Alberto
Santos Dumont foi o primeiro ser humano a voar em uma máquina mais pesada do
que o ar. Muito mudou desde então, mas a relação próxima entre homens, máquinas
e tecnologia se manteve. Deixando marcas
que afetam até hoje a aviação, o legado de Santos Dumont deixa também lições
para toda a sociedade – inclusive para a Indústria.
Para Ruy Sodré, aviador e escritor dos livros “O Sonho de
Voar – 300 Anos de História” e “Os heróis brasileiros”, é preciso entender que
o 14-Bis foi apenas um pedaço em uma longa jornada de trabalho, insistência e
inovação. “O ponto de partida foi o estudo de máquinas mais leves do que o ar,
os balões”, comenta. Incentivado por um
prêmio francês milionário, o foco inicial do inventor foi dar dirigibilidade
aos balões, permitindo maior controle de voo.
“O sonho da humanidade na época era transformar os balões, que já
voavam, em um meio de transporte controlável. Santos Dumont comprou esse
desafio e começou a desenvolver os sistemas necessários”, conta.
Foram muitos testes, tentativas e erros. Batizando seus
projetos com números, na ordem, foi apenas com o balão SD nº 6 que o desafio
inicial foi cumprido: o inventor circundou a Torre Eiffel e retornou ao ponto
de partida no tempo estipulado, em 1901, 4 anos depois de começar seus
experimentos. Entre este primeiro prêmio e o voo do 14-Bis, foram mais 5 anos
de projetos e acidentes em busca de um objetivo: construir uma máquina de voar.
Santos Dumont fez parte de um movimento coletivo de inventores e pioneiros. “Não eram só os irmãos Wright, nem só o Santos Dumont. Vários inventores no mundo inteiro estavam tentando, criando, vários caíram, vários morreram”, comenta Sodré. “Várias das tentativas utilizam motores elétricos. Santos Dumont deu início ao uso do motor à explosão – recebendo um elogio de Thomas Edson pela audácia de incluir um motor desse tipo em um balão cheio de gás inflamável”, completa. O momento é parecido com o da indústria hoje, em que diversas empresas e instituições desenvolvem tecnologias simultâneas, que juntas levam o setor industrial à sua quarta revolução – a indústria 4.0.
Entre as principais contribuições de Santos Dumont está o
uso de motores com cilindros opostos. Contando com a participação da indústria
– que já produzia motores com cilindros em linha –, o brasileiro adaptou um
motor existente para solucionar um problema prático de suas máquinas. “O motor
à explosão já era utilizado em carros, mas seu uso no ar, em potência máxima,
gerava superaquecimento. Santos Dumont chegou então a uma solução para melhorar
a refrigeração e evitar o problema: deixou de utilizar cilindros em linha e
passou a usar cilindros opostos.”, explica Sodré. Foi uma grande contribuição
para a indústria de motores, que é utilizada ainda hoje.
Atingir esse feito não foi suficiente para o brasileiro: ele continuou produzindo, criando e testando suas máquinas voadoras. A partir do projeto SD nº 19, mudou de abordagem e chegou a um novo marco histórico: a produção de suas Demoiselles, as primeiras cujo projeto foi, posteriormente, produzido em série pela indústria. “A nº19 foi sua primeira Demoiselle, outro grande sucesso mundial”, relata o escritor.
A capacidade de Santos Dumont de olhar para os recursos existentes
e transformá-los em prol de outros objetivos fica clara em toda a sua história.
No total, foram 22 invenções. Todo o conhecimento sobre aeronáutica e mecânica
adquirido com os projetos anteriores foi fundamental para chegar ao 14-Bis. “É
importante pensar nessa trajetória, entender que ele estudou balões, trabalhou
em sua dirigibilidade, e tudo isso foi parte do caminho que levou ao 14-Bis”,
comenta. Da mesma forma, foram os testes seguintes que possibilitaram a
Demoiselle, produzida em série. É a tecnologia em evolução, impulsionando
setores variados
A EXPOMAFE 2019, que acontece em São Paulo entre os dias 7 e 11 de maio, traz entre suas atrações o Espaço Tecnologia em Evolução, que ilustra o presente, passado e futuro da indústria. No Estande Temático, representando esse passado tão rico, estarão expostas duas réplicas em tamanho real do 14-Bis e do Demoiselle, produzidas por Alan Calassa. Será possível ver de perto as reproduções, com destaque para o motor Antoinette V8, de oito cilindros, aplicado no 14-Bis. A entrada é gratuita e o cadastro deve ser realizado no site.
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